Indústria espera sinal verde dos EUA para carne in natura
Diante de uma plateia repleta de pecuaristas, o presidente da Associação Brasileia das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o gaúcho Antonio Jorge Camardelli, diz ter informações confiáveis de que o governo brasileiro avançou nas negociações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos para a venda de carne bovina in natura brasileira para o mercado norte-americano. "É grande a chance de sair essa aprovação ainda neste primeiro semestre", afirmou ele, em sua palestra denominada "Mercado exportador e seus desafios", realizada no último sábado em Bonito, MS, durante o 7o Seminário Técnico do Novilho Precoce. De fato, como sugere a apresentação de Camardelli a criadores da Associação Sul-mato-grossense de Produtores de Novilho Precoce (Novilho MS), o ingresso da carne crua brasileira nos EUA, os maiores consumidores da proteína no mundo, representaria o término - com final feliz - de uma grande batalha travada pelo Brasil, que há mais de 15 anos almeja uma resposta positiva das autoridades norte-americanas. Segundo lembrou o executivo da Abiec, a presidente Dilma Rousseff se reunirá com o colega norte-americano Barack Obama durante a Cúpula das Américas, marcada para 10 e 11 de abril, na Cidade do Panamá. "Entre os diálogos e as expectativas de acordos de cooperação entre os dois países, a questão da carne bovina certamente estará na pauta das negociações", afirma o executivo da Abiec, acrescentando que este tema está sendo conduzindo pessoalmente ("e com grande afinco") pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu. A suposta quebra de barreira do mercado norte-americano, dizem analistas do setor, trará benefícios indiretos aos pecuaristas, pois resultará em aumento significativo da demanda pela carne bovina, não só pelo EUA, mas também por outros novos compradores que hoje também bloqueiam o produto brasileiro, por seguirem as orientações sanitárias advindas do governo norte-americano, como México, Canadá, Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Além disso, ressalta Camardelli, a abertura dos EUA para a carne brasileira daria maior equilíbrio para o mercado doméstico brasileiro, já que há uma preferência dos americanos por cortes dianteiros do boi, utilizados na produção de hambúrgueres, enquanto que no Brasil existe uma maior demanda pelos cortes do traseiro (a chamada "carne de primeira"). "O mercado dos Estados Unidos é excelente para o tipo de boi que a gente tem muito por aqui, em fazendas do Centro-Oeste, que são animais inteiros (não castrados), sem muita gordura", diz. Historicamente, os Estados Unidos justificam as proibições impostas à carne brasileira in natura pelo fato de a pecuária brasileira ainda correr riscos de contaminação por febre aftosa, epidemia que não é registrada no país da América do Norte desde 1922 - atualmente, eles só compram a carne bovina brasileira industrializada (enlatada). No entanto, o próprio Departamento da Agricultura dos Estados Unidos (USDA) já reconhece o esforço que o Brasil tem feito nos últimos anos para erradicar a aftosa em todo o território nacional e a sua capacidade estrutural para detectar e controlar rapidamente eventuais casos da doença no rebanho. Ainda de acordo com o presidente da Abiec, caso o Brasil receba sinal verde do governo norte-americano, inicialmente, os frigoríficos brasileiros disputariam a cota "outros países", limitada em 60 mil toneladas de carne bovina in natura, quantidade irrisória em comparação ao volume total de importações anuais dos EUA, ao redor de 1 milhão de toneladas. "O importante, agora, é abrir o mercado", enfatiza Camardelli, sugerindo que a indústria brasileira terá, posteriormente, condições de conquistar rapidamente outros canais de venda da carne existentes no país de Barack Obama. Segundo o executivo, nos preços atuais, os norte-americanos pagariam em torno de US$ 4 mil por tonelada pela carne in natura brasileira, "cotação superior ao valor de US$ 3 mil pago hoje por outros países importadores do mesmo tipo de produto, como a Rússia e Egito". No ano passado, o Brasil faturou US$ 7,2 bilhões com as exportações de carne bovina. "Este ano, nós vamos certamente superar este valor", estima Camardelli, que já arrisca colocar nessa conta as vendas do produto in natura aos EUA. Fonte: CNPC
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