Sociedade Rural Brasileira (SRB) enviou ontem, quinta-feira, 25/5, carta ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas presidente do banco pediu demissão nesta sexta-feira.

Confira abaixo a íntegra da carta enviada à Excelentíssima Senhora Maria Silvia Bastos Marques - Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro (RJ), em 25 de maio de 2017. Sobre a concentração econômica no mercado de carne
 
Senhora Presidente,
 
Reunimo-nos em 28/04/2017 na sede do BNDES com a Sra. Cláudia Prates, sua Diretora, para discutir os desafios que se apresentam em nosso agronegócio em função dos problemas relacionados com a empresa JBS. A reunião transcorreu em clima muito cordial ocasião em que as Sra. Diretora nos transmitiu tranquilidade. Na data em que dirigimos correspondência a V.Sa. não imaginávamos a envergadura do triste episódio da delação premiada dos dirigentes da empresa que colocou o país na atual convulsão política. Tínhamos, até mesmo por que era público, conhecimento das inúmeras investigações em andamento no âmbito da Policia  Federal,  Ministério Público e Tribunal de Contas da União. Nos preocupávamos com os próximos passos que poderiam ocorrer e a instabilidade que poderia ser criada na empresa JBS, não na Nação como ocorre.
 
O evento criou, como antecipamos em nossa correspondência, preocupações no mercado de bovinos para abate. Na data subsequente a divulgação da delação a empresa alterou em inúmeras unidades as condições de compra de bovinos deixando de praticar o pagamento a vista. Entre as inúmeras irregularidades cometidas pelos acionistas controladores da empresa, agora divulgadas, destacamos a recente compra de ações hoje na Tesouraria da empresa por valor muito superior ao atual. Conscientes de que a divulgação da delação iria provocar uma queda no preço das ações da empresa, se anteciparam na venda transferindo para a Tesouraria e provocando prejuízo aos acionistas minoritários e BNDES Participações.
 
Este problema não foi incluído na delação premiada do Sr. Joesley Batista e certamente será investigado pela Comissão de Valores Mobiliários, em eventual processo judicial e mesmo na Comissão Parlamentar de Inquérito, ainda em processo de instalação decidida no âmbito da Frente Parlamentar da Agricultura. Infelizmente todos esses processos são muito lentos.  O porte da empresa e a sua predominância no mercado em determinadas regiões do pais criam dificuldades para o agronegócio. Solicitamos o empenho de V.Sa., na qualidade de acionista extremamente relevante, no sentido de tranquilizar o mercado de bovinos. É preciso também analisar e exercitar direitos incluídos nos contratos existentes. É essencial que o BNDES saia na frente na defesa dos interesses econômicos de maneira independente aos acionistas hoje controladores. É importante resgatar a credibilidade dessa instituição tão prejudicada pelas imposições realizadas durante o governo anterior, hoje expostas no processo de delação premiada.
 
Certos da atenção.
 
Marcelo Vieira
Presidente da Sociedade rural Brasileira (SRB)
 

Sobre a SRB - Fundada em 1919, a Sociedade Rural Brasileira trabalha há quase um século com políticas públicas e iniciativas voltadas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro. Formada em sua origem por produtores rurais dotados da convicção de modernizar constantemente o setor, seja pelo melhoramento tecnológico, pelo ambiente regulatório e pelo aumento da produtividade, a SRB insere-se em pleno século XXI como uma plataforma de intermediação entre os diversos elos dessa cadeia produtiva. Solucionar conflitos, gerar consensos e encontrar soluções são os conceitos-chaves para que o agro brasileiro continue sendo cada vez mais eficiente, competitivo e sustentável.

Fonte: BeefWorld