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23/11/2017
Cresce a procura pelo Wagyu, o boi que bebe cerveja e não tem carne de segunda


À primeira vista, parece um boi comum, que não se destaca pelo porte ou musculatura, pelo contrário, é até um pouco menor do que as outras raças. Mas em termos de valor de mercado, não existe concorrente à altura: a carne da raça Wagyu chega a custar quase R$ 700 o quilo e, quem já experimentou, garante que o sabor não tem comparação.

“É uma carne que se corta e vende em pedacinhos, não dá para vender em grandes volumes porque é muito cara”, admite o zootecnista José Artur de Oliveira Pires, responsável pelo pequeno rebanho de 35 animais PO (puro de origem) da fazenda da Unicesumar, em Maringá.

Mas por que comer bife Wagyu ainda é um luxo para poucos? A resposta não tem a ver com a tradição japonesa de massagear o boi e colocar cerveja misturada ao feno, práticas que visam desestressar e refrescar o gado, além de estimular o apetite nos meses quentes de confinamento. O preço nas alturas também não se justifica pela última moda australiana de tratar os animais com chocolate.

O boi Wagyu é considerado a Louis Vuitton das carnes, em grande parte, pelas elevadas exigências na criação e pelo protecionismo do Japão, de onde o gado é originário. Ao perceber sua qualidade única de marmoreio – gordura entremeada às fibras que dá sabor, suculência e maciez à carne –, em 1997 os japoneses declararam a raça “patrimônio nacional” e baniram a exportação de animais vivos e da genética Wagyu, quando apenas 221 animais tinham sido exportados.

Curiosamente, os primeiros Wagyus que entraram nos Estados Unidos, de onde vieram para o Brasil, não fizeram sucesso porque nos anos 70 e 80 a indústria se interessava mais pela aparência e crescimento rápido, não dando muita atenção à textura da carne.

No Brasil, o Wagyu chegou em 1992 na fazenda da empresa Yakult, em Bragança Paulista. Atualmente, o país tem um rebanho de apenas 5 mil animais POs, número que sobe para 40 mil quando se incluem os cruzamentos.

Cuidados pré-natais

Produzir Wagyu dá trabalho. Primeiro, é preciso um alto investimento em genética, na compra de sêmen e embriões. Os cuidados com o animal começam ainda na vida intrauterina, com suplementação alimentar da vaca desde o 2º mês de prenhez para ativar o potencial genético desejado de musculatura e marmoreio. Após o nascimento, os bezerros recebem um concentrado em cocho especial, separados da mãe, e as mamadas são controladas para evitar qualquer estresse, que pode ter impacto negativo no desenvolvimento.

O Wagyu também demora bem mais do que as outras raças para ficar pronto para o abate. Enquanto é possível abater um nelore com 18 meses de idade, a raça japonesa só atinge o ponto ideal depois dos 30 meses. No último ano de vida, o gado precisa ser confinado e submetido a uma dieta altamente energética. Tudo sem pressa. “Para uma boa deposição de gordura intramuscular, os animais devem engordar gradativamente. Por isso a criação do taurino japonês custa um pouco mais, mas estamos trabalhando para terminá-los com no máximo 30 meses””, afirma Eliel Marcos Palamim, supervisor técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Wagyu.

No Paraná, a criação do gado japonês avança lentamente. Somente em abril deste ano a fazenda da Unicesumar viu nascer o primeiro bezerro local, e outros 100 terão nascido até o final do ano. Já na Noma Agropecuária, parceira da faculdade na troca de genética, a criação começou há três anos e conta com 200 animais puros.

A previsão é de que em poucos anos a oferta do kobe beef, como também é conhecida a carne Wagyu, aumente significativamente. “Logo poderemos produzir uns 300 bois por ano. Calculo que daqui a cinco anos a carne vai estar bem mais popularizada”, prevê José Artur, da Unicesumar.

Boi sem carne de segunda

O veterinário Luiz Paulo Rigolon, que cuida do rebanho da Noma Agropecuária, em Maringá, acredita que o bife japonês avançará pelos cruzamentos, metade zebu e metade Wagyu, que preservam bons índices de marmoreio. “Em um animal como o Wagyu, de excepcional qualidade, não existe mais o conceito de carne de segunda”, assegura Rigolon.

Não dá mesmo para chamar “de segunda” o acém Wagyu, que custa entre R$ 150 e R$ 200 o quilo. Os cortes mais baratos da raça são o coxão mole e a costela, que chegam ao consumidor por R$ 50 a R$ 60 o quilo. Contra o coxão mole pesa o fato de não ter tradição entre os churrasqueiros e, sendo mais gorduroso, também não ganha a preferência das donas de casa. Já a costela, pelas características da raça, acaba rendendo pouca carne e muita gordura, daí a razão do valor mais baixo.

O preço da carne Wagyu oscila ainda em função do grau de marmoreio, numa escala de 1 a 12. O Brasil não produz bife Kobe de marmoreio máximo, pelos limites da genética e também porque o paladar dos trópicos não está acostumado aos índices de gordura apreciados pelos asiáticos. Marcos Canan, do açougue Bull Prime, em Curitiba, tem à venda um contrafilé de Wagyu de R$ 690 o quilo e grau 10 de marmoreio, produzido no município paulista de Americana. É o top de linha.

A boa notícia dos criadores, no entanto, é que a médio prazo o preço deve baixar. “Cobrar R$ 500 o quilo não é interessante nem para o consumidor nem para o produtor. À medida que estivermos produzindo mais carne, vamos conseguir diminuir o custo de produção e também o preço ao consumidor”, prevê Luiz Paulo Rigolon.

Marcos Canan diz que quando começou a vender o kobe beef, há cinco anos, imaginava que o preço logo iria baixar, o que não aconteceu. “Pelo contrário, o preço não para de subir. É igual à carne de cordeiro e ao Angus certificado. A produção não consegue suprir a necessidade do mercado. Acho que ainda vai demorar alguns anos para baixar o preço do Wagyu”, calcula.

O fato é que os criadores estão correndo para atender à demanda. Enquanto em 2010 foram vendidas 6.600 doses de sêmen de Wagyu para cruzamentos no país, três anos depois as vendas já alcançavam 45.000 doses anuais. O boi japonês, discreto, vai comendo pelas beiradas.

Fonte: Portal do Agronegócio


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