O que você achou do nosso site?



29/01/2018
Verticalização viabilizada


A aposta é arrojada: produção de novilhos precoces, de qualidade, combinando pasto e suplementação estratégica em escala comercial dentro do Pantanal, com abate em frigorífico próprio e distribuição da carne no varejo. Tudo apoiado em complexa logística, algo sem precedentes na região.

Esta é a empreitada da Família Marinho, de Corumbá, região oeste do Mato Grosso do Sul, que entrou no ramo pecuário em 1982 e que, quatro anos depois, constituiu a Empresa Marinho de Agropecuária do Pantanal Ltda. (Ema Pantanal) para tocar um negócio que hoje se estende por mais de 150.000 hectares de terras na planície pantaneira e em pontos mais altos do bioma (terras não alagáveis). Apenas no Pantanal do Paiaguás, a empresa conta com um rebanho médio de 40.000 animais (sendo 22.000 matrizes) de onde saem anualmente 12.000 reses para a produção de 4.000 toneladas de carcaças/ano. Esse porte justificou a aposta que se concretizou em 13 de dezembro de 2016: a construção e inauguração do Frigorífico Marinho (Frima) com capacidade inicial para o abate de 120 cabeças/dia.

Com escritório central na cidade de Corumbá, a organização cuida de todo o processo produtivo, que começa 260 km ao norte, no Paiaguás, em três propriedades (Fazendas Piratininga, São João e Perdizes) através da atividade de cria em 90.000 hectares de pastagens, 80% delas nativas e o restante, cultivadas com braquiária humidícola.

Com um esquema de suplementação dos animais já durante a cria, produção própria de grande parte dos componentes da ração na recria -, incluindo silagem de milho úmido e silagem de sorgo, para aumentar a velocidade do ciclo produtivo dentro do Pantanal (tradicionalmente mais lento em relação ao planalto), e um esquema de pré-condicionamento alimentar dos animais em semiconfinamento, antes de seguirem para o confinamento -, a empresa conseguiu viabilizar a produção de novilhos na faixa de 24 meses de idade e peso médio de 19@, com rendimento de carcaça variando de 52% (fêmeas) a 56% (machos). Com a carne dos machos (40% do abate do Frima) sendo comercializada nos Estados de São Paulo e Paraná.

Peleja logística - A condução do trabalho da Ema Pantanal "dentro da porteira" fica a cargo dos irmãos gêmeos Daniel (cria) e Guilherme (recria e terminação), de 40 anos, e tem no primogênito Alberto Marinho (o "Beto"), de 41 anos, a figura do responsável pela indústria frigorífica, que fica localizada na Fazenda Campo Salma, às margens da BR-262, a principal rodovia que corta o Pantanal Sul, e a apenas 10 km da Fazenda Angico, principal núcleo de terminação de animais da empresa.

A base do rebanho é de animais Nelore (80%), mas os irmãos Marinho usam o cruzamento industrial de forma estratégica (na maioria com Angus F1 e F2) em algumas áreas mais afeitas a enchentes constantes, que eles chamam de "brejo". A aposta é na aptidão do animal de sangue europeu em se adequar a um eventual encurtamento de ciclo, caso tenha de ser retirado às pressas para uma área mais alta.

A vacada e a bezerrada ocupam áreas inundáveis (altitude média de 80 metros acima do nível do mar) com forrageiras relativamente fartas, mesmo na chamada seca verde (período de estiagem no Pantanal).

Tocar pecuária dentro do bioma sempre foi desafiador. As grandes distâncias, as áreas alagadas e a falta de infraestrutura de acesso (estradas, pontes, manutenção de vias, etc.) tornam operações de transporte de animais e de insumos verdadeiras provas de resistência, que devem ser planejadas estrategicamente para minimizar perdas.

O desafio nutricional de todo o processo começa antes mesmo da saída dos bezerros rumo às áreas de recria e terminação, concentradas nas fazendas do grupo em áreas mais altas (ou peripantaneiras). Como preparar os lotes para que suportem etapas de transporte que mais se assemelham a uma prova de triatlo? São nove dias de deslocamento, em comitiva, percorrendo 120 km dentro do Pantanal do Paiaguás até o Rio Paraguai (Porto São Pedro); de lá, mais 160 km para descer o rio, em balsas, preferencialmente à noite, até a fazenda Rancho Alegre, de 200 ha, em Ladário, cidade conjugada a Corumbá, que leva mais 12 horas. As viagens ocorrem entre os meses de agosto e março.

A partir da chegada à Rancho Alegre, a última "prova" é dividida, pois os lotes seguem três destinos diferentes: a bezerrada precoce (aproximadamente 3.500 animais/ano), que vai morrer até 24 meses de idade com peso médio de 19@, viaja em caminhões boiadeiros diretamente para a terminação em pastos, área de semiconfinamento e confinamento nas fazendas São Bento (percurso de 150 km) e Angico (trajeto de 60 km), já em um Pantanal não inundável.

Os animais de descarte (entre 10% e 15% das fêmeas) seguem, também por estrada, para padronização na Fazenda Campo Novo (65 km), enquanto os machos 'não precoces' (5.500 animais/ano), que serão abatidos entre 32 e 36 meses de idade, fazem novo trecho de rio (de 120 km) até as Fazendas Vassoural e Baia Rica (distantes 5 km uma da outra), na região conhecida como Jacadigo, onde permanecerão em recria por aproximadamente 12 meses. Ao final deste período seguem para a Angico, onde ficam por mais 12 meses, em média, até o abate.

Estratégia nutricional - Para suportar a maratona e as intempéries climáticas típicas da região, Daniel Marinho adotou uma estratégia nutricional - que ele chama de "recriazinha" -, com o objetivo de minimizar inevitáveis perdas. "Não embarco bezerros ao desmame. Eles ficam aproximadamente mais 90 dias a pasto e cocho até alcançarem um peso mínimo de 170 kg. Abaixo disso não viaja", conta.

Levar a suplementação para 40.000 animais em lugar tão distante foi outro obstáculo transposto, já que, segundo Daniel, é difícil falar de nutrição na pecuária de corte sem milho e, no caso do Pantanal, são raras as estradas viáveis para o transporte. "Quando isso é possível, o frete sai a R$ 500 a tonelada, mais caro do que os R$ 300/t pagos pelo milho em algumas regiões brasileiras", pondera.

A solução foi fazer os suplementos percorrerem o caminho inverso ao dos animais: as embarcações que descem com o gado sobem o Rio Paraguai com 20.000 bolsas de sal mineral (de 30 kg cada) entre Ladário e Porto São Pedro. O custo é alto: R$ 2 por bolsa, mais R$ 1.500 de frete para cada grupo de 200 bolsas num caminhão terceirizado que puxa a carga do porto até as fazendas da EMA. Representa 30% do custo da dieta. "Por isso, obrigatoriamente, tenho de fornecer uma suplementação de baixo consumo para garantir rentabilidade", observa Daniel.

Neste sentido, ele apostou num manejo nutricional ao longo de aproximadamente três meses que antecedem o embarque e tenta encaixar o procedimento, na maioria do rebanho, logo após o desmame. O método, segundo ele, prevê a manutenção destes animais nos melhores pastos das fazendas e o fornecimento de um proteinado (mistura múltipla) na ordem de 1 a 1,5 grama por quilo de peso vivo. "Uso ainda aditivos como virginiamicina e monensina e faço eventuais ajustes de proteína com ureia após avaliação de escore de fezes", complementa. Mesmo assim, o impacto da longa e cansativa viagem é significativo. "A perda média de peso varia entre 15 e 20 kg por cabeça, mas o restabelecimento é relativamente rápido. Como o animal está numa fase de ganho compensatório, a recuperação do escore anterior não demora mais do que 20 dias", garante.

Todo este contorcionismo logístico/nutricional, no entanto, não vem desapontando: a rentabilidade da cria, que 20 anos atrás não passava de R$ 15/ha/ano, hoje está na faixa de R$ 80/ha/ano. "É lógico que a gente quer melhorar este índice, mas observe bem: são R$ 80/ha num total de 90.000 ha, dentro de uma região com baixa valorização das terras, onde o hectare é comercializado na faixa de R$ 1.000", pondera Daniel Marinho.

Outra ousadia - A partir da chegada dos animais nas fazendas de terras mais altas, quem assume o comando dentro da porteira é Guilherme Marinho. De imediato, ele leva parte dos lotes dos animais considerados precoces para pastos de integração lavoura-pecuária (ILP) na Fazenda Angico, outra ousada particularidade da pecuária estruturada pela EMA dentro do bioma.

Agricultura nunca foi o negócio do Pantanal, mas não havia outra alternativa aos 500 km de distância dos fornecedores de grãos mais próximos. Na Angico, que é a fazenda de terminação da EMA, o plantio começa em outubro, com a semeadura de sorgo em 300 ha. A colheita acontece ao longo do mês de janeiro e toda a lavoura é utilizada para fazer silagem de planta inteira.

Em seguida, os mesmos 300 ha recebem o plantio de milho, que também encontra numa outra área, de 800 ha, espaço para uma safra de verão, tardia, com semeadura em dezembro. Ambas, de acordo com Guilherme Marinho, somam uma produtividade média de 110 sacas/ha; no sorgo, batem em 55 sacas/ha. O plantio dos cereais é feito de forma consorciada com os capins mombaça e braquiarão, que tomam conta da fazenda.

Após a colheita, estas áreas se tornam pastos de semiconfinamento. Entre agosto e setembro deste ano, por exemplo, irão receber os animais precoces vindos do Paiaguás, que serão abatidos em 2018, em confinamento, que tem capacidade estática para 3.600 animais.

De acordo com Guilherme Marinho, a agricultura já consegue suprir 100% da demanda de volumoso (15.000 t de silagem de planta inteira), 80% da necessidade de milho (7.000 t), sendo 3.000 t de milho seco e 4.000 t de milho grão úmido, carga esta ensilada em 40 silos bolsa ("bag"), cada um com capacidade para armazenar 100 t.

Com esta disponibilidade, o custo da tonelada da dieta de confinamento, fornecida em maio de 2017, fechava em R$ 250, valor bastante competitivo para terminação de animais no bioma Pantanal.

Manejo nutricional, o "pulo do gato" - O fato de produzir a maioria absoluta dos componentes da ração que vai para os cochos de semiconfinamento e confinamento, deu margem e segurança para que a Família Marinho trabalhasse o que alguns garantem ser o "pulo" da Ema. Com esta carta na manga, a empresa estabeleceu uma série de procedimentos interligados que compõem uma engenhosa máquina nutricional com objetivo claro de aumentar a velocidade do ciclo produtivo dentro do Pantanal.

Um dos primeiros desafios foi armazenar e potencializar a qualidade dos componentes da ração. O investimento em silos bolsa (40 unidades a R$ 1.200 cada) para o armazenamento de silagem de milho úmido, por exemplo, é uma estratégia da empresa para elevar a digestibilidade da ração ofertada por longo período. Em dietas de terminação, o amido geralmente é o componente que fornece a maior quantidade de energia digestível a ser consumida pelos animais. Por isso, o foco em seu melhor aproveitamento. "Quando se utiliza o milho úmido no lugar do seco, em uma mesma dieta, as fezes se apresentam com menos teor de amido fecal, indicativo claro de melhor aproveitamento do amido no processo digestivo", explica Guilherme Marinho.

Diante dessa observação, a empresa decidiu ensilar o componente para garantir seu fornecimento gradual e sistemático no cocho. "Alguns trabalhos científicos mostram que o grão úmido suporta até três anos de armazenagem. Na verdade, a sua digestibilidade aumenta muito nos primeiros 30 dias, atingindo o pico em 90 dias. Consideramos abrir o silo bolsa a partir de 60 dias após seu fechamento", afirma o pecuarista, que é engenheiro agrônomo.

Um procedimento prático e constantemente executado pela Ema é a avaliação do escore de fezes. "Assim, podemos decidir sobre a necessidade ou não de ajuste na oferta de proteína na suplementação, principalmente a proteína degradável no rúmen, que chamamos de PDR. Esta regulagem, quando necessária, é feita com adição de mais ou menos ureia no composto alimentar", explica o gestor.

O procedimento é acompanhado por César Borges, gerente de Desenvolvimento e Soluções da Phibro, que presta uma espécie de consultoria nutricional voluntária para o grupo. "É uma ferramenta muito prática e de fácil entendimento por parte da equipe de campo. Junto com a avaliação de outros indicadores, permite julgar se a dieta dos animais, levada ao pasto e ao confinamento, está adequada".

Ele detalha como o ajuste de PDR pode interferir positivamente no desempenho do animal: "Em períodos de estiagem prolongada ou de seca, a grande dificuldade do boi é em manter o consumo adequado de matéria seca. Quando a digestibilidade do capim cai, o tempo de retenção ruminal fica maior. Com a adequação da quantidade de PDR conseguimos fornecer nitrogênio na medida adequada para que as bactérias ruminais sejam mais eficazes na digestão daquilo que é disponibilizado pelo pasto. Assim, é possível aumentar a taxa de passagem e elevar a quantidade de forragem consumida pelos animais".

O "segredo" do pré-condicionamento - Aparentemente, causaria estranheza a grande produção de volumoso numa região com enorme oferta de pasto. Mas ela tem razão de ser e representa o "coelho da cartola" da Ema: vai para o cocho de semiconfinamento, num esquema de pré-condicionamento dos animais ao confinamento que vem em seguida.

Para César Borges, é neste momento que começa efetivamente a terminação com alta energia, ao se oferecer ao animal a dieta de confinamento, de forma gradual, simultaneamente a uma oferta de pasto de qualidade. "Se o período convencional de cocho é de 60 dias, o boi terá o mesmo tanto na mesma dieta no semiconfinamento. Ou seja, entrará no confinamento com uma condição corporal privilegiada", argumenta.

A estratégia reforça e dá agilidade para o acabamento do animal. Sobretudo em relação ao chamado "precoce" que chega da cria diretamente para a área de terminação, desgastado pela viagem, apesar de mais pesado (peso superior a 200 kg) em relação aos demais (encaminhados para uma recria de 12 meses). De início ele é acomodado em pasto de alta qualidade e, dependendo da sua condição, já recebe um proteico energético até atingir a casa de 330 kg. Neste momento ele vai para a área de semiconfinamento com a dieta gradual de confinamento, configurando o pré-condicionamento. Com 440 kg é fechado para ser abatido com 540 kg. Todo este ciclo demora, em média, 12 meses, tempo suficiente para que o animal seja abatido com idade até 24 meses.

Além de padronizar o lote de animais e acostumá-lo com a dieta de cocho antes de ele ser fechado em confinamento, outro argumento é de que o pré-condicionamento ajuda a assegurar oferta de pasto praticamente ao longo do ano todo. Guilherme Marinho detalha melhor o processo ao tomar como base a média diária de consumo animal de 2,2% do peso vivo de matéria seca e um peso médio de 450 kg. Isso, segundo ele, equivale a 7,5 kg consumidos no pasto e a 2,5 kg de matéria seca em suplementação.

O gestor salienta que, apesar da enorme importância do pasto, o procedimento permite "padronizar consumo, oferecendo também energia e aditivos que melhoram o processo de fermentação do rúmen". Como a estratégia facilita a ingestão total do alimento, o animal tende, segundo o pecuarista, a reduzir muito seu deslocamento diário pelas pastagens, algo significativo no ambiente de grandes extensões da pecuária pantaneira. "O percentual de matéria seca no pasto é de 18%. Em nossa ração, é de aproximadamente 55%. Com cinco minutos no cocho ele consegue ingerir perto de 25% de sua necessidade diária", calcula Guilherme.

Ao longo do semiconfinamento (90 a 100 dias), a ração de confinamento é oferecida de forma gradual e sempre crescente. "Com os machos que ficam na Angico, começamos com 0,5%/p.v. e vamos elevando até 1%/p.v., índice de consumo comum já nos últimos 10 dias. Neste período, ocorre a adaptação da flora ruminal, com a seleção das bactérias para degradação de celulose e amido, e das papilas ruminais, para o suporte a teores de amido mais elevados. ", explica.

César Borges, da Phibro, complementa dizendo que o pré-condicionamento é muito mais do que uma adaptação: com a estratégia, a Ema antecipa o processo popularmente conhecido como 'fazer a carcaça'. "O confinamento seria apenas a finalização do processo, um 'tiro curto' de no máximo 60 dias", observa.

Não deixa, porém, de fazer uma ressalva: preparar e transportar a dieta de confinamento para as praças de alimentação das áreas de semiconfinamento nem sempre é fácil. "Operacionalmente, é complicado, pois se carrega muita água junto. Mas, no caso da EMA, a estrutura permite, pois o espaço de produção de alimento funciona praticamente junto às áreas de cocho", explica.

De acordo com os irmãos Marinho, a rentabilidade na recria de um ano (para animais não precoces, antes de entrarem em pré-condicionamento), em uma área total de aproximadamente 15.000 ha, gira na casa de R$ 140/ha. Em função dos últimos investimentos, como no caso do frigorífico, por exemplo, eles apenas estimam a lucratividade final do sistema no conjunto pré-condicionamento/terminação, que ocupa quase todos os 2.500 ha da Fazenda Angico. "Há 10 anos não chegaria a R$ 250/ha. Hoje bate na casa dos R$ 500/ha", calcula Daniel Marinho.

Pecuária surgiu por "recomendação médica" - Não fosse um ataque cardíaco sofrido por José Antônio Marinho Neto - irmão de Tadeu Roberto Nemir Marinho (pai de Daniel, Guilherme e Alberto) -, no início dos anos 80, talvez a Ema Pantanal não existisse. Naquela época, o negócio da família Marinho era exclusivamente focado na exportação. "Quando meu tio enfartou, a orientação médica foi para que ele comprasse um sítio onde pudesse passar o fim de semana e se desestressar. Deu no que deu", brinca Daniel Marinho.

Assim, em 1982, os dois irmãos começaram na pecuária através de um pequeno rebanho de leite e, em 1988, depois de "muito trabalho e pouco resultado", enveredaram para a pecuária de corte, com a compra da primeira fazenda de engorda: a Angico.

De lá pra cá os dois consolidaram duas holdings que originaram a EMA. Cada uma detém 50% da empresa e cuida de outros negócios. A holding de Tadeu, por exemplo, também administra vários imóveis na cidade e parte da fazenda Santa Anatália, de 50.000 ha, no Pantanal da Nhecolândia, de propriedade de sua esposa, Beatriz de Barros Marinho. "Mesmo não fazendo parte da empresa, as terras de minha mãe devem vender este ano aproximadamente 4.000 bezerros para a EMA", salienta Daniel.

Integram o atual Conselho Executivo da EMA os patriarcas José Antônio Marinho Neto (administração); Tadeu Roberto Nemir Marinho (administração) e a segunda geração composta pelos irmãos Guilherme (agricultura, recria e terminação), Daniel (cria e Gema) e Alberto (Frima) e pelos seus primos João Bosco (financeiro) e Tadeu Coimbra (planejamento e suprimentos).

Empresa leva frigorífico até o boi - Quem cruza o Pantanal pela BR-262 a partir de Campo Grande, MS, dificilmente vai perceber. Camuflado pela vegetação, bem do lado esquerdo da rodovia, 45 km antes de se chegar a Corumbá, está o Frigorífico Marinho (Frima), que foi montado para preencher um hiato dentro do sistema produtivo da Ema Pantanal: a empresa domina o ciclo completo de produção de bovinos e é dona da Distribuidora Sabor 10, que há uma década leva carne para diversos pontos de venda da cidade, de 110 mil habitantes.

"Percebemos que tínhamos toda a produção e a ponta da distribuição nas mãos. Faltava o abate, que até então era terceirizado. Existiam duas opções: abandonar a distribuição ou fazer tudo", conta Guilherme Marinho. A ideia partiu do pai dele, Tadeu Marinho, e foi uma decisão difícil. Mas prevaleceu a determinação de se avançar e, mais do que isso, inovar: em vez do padrão usual de mandar o boi para o frigorífico, a Ema levou o Frima até o boi. O frigorífico ocupa 4 ha da Fazenda Salma (de 200 ha), a apenas 10 km da Fazenda Angico, principal núcleo de terminação de animais da empresa.

A iniciativa privilegiou a logística, de maneira a facilitar ao máximo o manejo pré-abate, para conferir à carne produzida no Pantanal características de maciez, suculência e sabor. Além de garantir procedimentos sustentáveis: o resíduo animal da indústria, depois de tratado, se transforma numa espécie de adubo orgânico, que realimenta e revigora, pelo método de ferti-irrigação (irrigação e adubação simultâneas), uma área de pasto de espera de 6 ha formados com braquiarão. São 180 aspersores instalados em 10 piquetes. "Também fazemos monitoramento do solo para conter qualquer risco de contaminação do lençol freático. O Frima trabalha com resíduo zero e poluição zero", garante Alberto Marinho, o irmão mais velho e sócio que dirige a indústria.

Em evolução - Foram três anos de pesquisa e investimento de R$ 10 milhões, 70% financiados com recursos do FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste). Habilitado pelo serviço inspeção federal (SIF), do Ministério da Agricultura, iniciou os abates em 13 de dezembro passado, com um lote de 20 animais colocado no mercado de Corumbá.

De lá pra cá, como todos os frigoríficos, sofreu o impacto gerado pelas intempéries políticas e econômicas brasileiras. Com capacidade para abater 120 animais/dia, vem levando para o gancho uma média mensal, até maio, de menos de 40 cabeças/dia. A decisão, segundo Beto, foi de caráter econômico. "O preço da arroba caiu tanto (de aproximadamente R$ 145 em dezembro de 2016 para R$ 122 em 2 de junho) a ponto de se tornar mais vantajoso carrear alguns lotes para o abate em unidades de terceiros. São aproximadamente 180 machos/mês que pretendo, agora, puxar para a nossa indústria", explica.

Mas, no final de maio, Beto respirou mais aliviado: "Conseguimos empatar o resultado com o custo do processo, hoje variando entre R$ 300.000 a R$ 350.000/mês". Mesmo com as indefinições de mercado, o diretor do Frima está otimista com o segundo semestre: "A partir da entressafra, certamente haverá maior demanda e melhor preço". Nesse sentido, trabalha para abater 50 cabeças/dia a partir de julho.

Destinos e margens - Os machos representam perto de 40% do abate mensal do Frima. Registram rendimento médio, entre Nelore e cruzados, de 56% na carcaça (média de 30 meses e 19,5@), com sua carne comercializada com clientes de São Paulo e Paraná. Já as fêmeas, com rendimento médio de 52%, são direcionadas para o mercado de Corumbá e a vizinha Ladário (cidade com pouco mais de 20.000 habitantes) e formam dois grupos distintos: vacas de descarte com peso médio de 15@ e novilhas de até 24 meses com 13,5@. "Quando encaminho nossos animais para abate terceirizado, o rendimento médio de carcaça cai para 52,5% e 49%, respectivamente", observa Beto.

De acordo com os irmãos Marinho, a margem financeira obtida no processo industrial sobre o preço da carcaça é de aproximadamente R$ 80 na fêmea e R$ 140 no macho. Em subprodutos (couro, sebo, miúdos e farinha de carne/osso), o retorno é mais significativo: R$ 280 e R$ 350, respectivamente, por cabeça. O Frima efetuou alguns abates para terceiros, mas não é esta, segundo a direção, a tendência do trabalho. "Podemos até mesmo comprar gado de outros produtores, de preferência animais magros, desde que atendam o padrão de carne de qualidade EMA, que prevê acabamento de mediano a uniforme, animais jovens com média de idade de 30 meses e de base genética Ema", observa Guilherme.

O espaço de instalação do Frima dentro da Fazenda Salma já prevê uma ampliação de abate para até 500 cabeças/dia e implantação de um núcleo de desossa. Quando isso ocorrer, a Ema Pantanal espera conseguir entrar pra valer no mercado de carne de qualidade. "Hoje, entregamos apenas a carcaça casada e, dessa forma, fica difícil vender nossa qualidade. Na medida em que tivermos a desossa, isso será possível. Antes, porém, precisamos consolidar a parte operacional e a comercialização", pondera Beto.

Com a carne desossada, ele pretende entregar o produto embalado, com marca própria e em cortes especiais totalmente originários do Pantanal. Segundo Guilherme Marinho, por enquanto, ainda não há um cronograma para se chegar a esse objetivo. "Estamos estudando o mercado com muito cuidado. Quando a demanda começar a dar sinais de pressão sobre a nossa oferta, será a hora de turbinar o processo", vislumbra.

Pantaneiro 'da Gema' - Para conseguir uma padronização ideal de carcaça e qualidade final da carne a EMA Pantanal iniciou em 2000 um programa de melhoramento genético próprio, batizado de Genética Ema, ou simplesmente Gema. O núcleo, com 1.200 vacas, funciona na Fazenda Primavera, em Corumbá. "Só ano passado vendemos 200 touros", informa Daniel Marinho, que acumula a gestão do setor de cria com a administração do programa. Anualmente são selecionadas de 60 a 100 fêmeas da estação/safra de cria para integrar o núcleo.

Segundo Daniel Marinho, desde 2016 a EMA, através da Gema, integra a Conexão Delta Gen em função de afinidade de princípios produtivos: "Na parte de avaliação genética eles são focados muito em velocidade de ganho de peso e não no ganho de peso absoluto. A tendência de animais menores, porém fortes e musculosos, é uma vantagem para nós, do Pantanal. Animal grande tem exigência de mantença elevada e isso arrebentaria com meus índices", avalia ele.

No ano passado, o segmento da cria no Paiaguás registrou perto de 30.000 procedimentos de IATF para um rebanho de 22.000 matrizes. A taxa de prenhez ficou em 75%, com repasse de touros, e novilhas desafiadas a partir dos 18 meses. Segundo Daniel, as perdas até a desmama ainda são elevadas, variando entre 8% e 10%, com a taxa de desfrute fechando em 68%. "Dá para melhorar. Com certeza, só as mortes por ataque de onças colaboram com mais de 3%", informa ele.

A seleção genética do programa é direcionada a garantir a produtividade do rebanho comercial dentro do conceito de ciclo curto. Em linhas gerais, além de focar no ganho de peso na desmama (245 kg de média, sendo o macho 15 kg mais pesado) e no sobreano (360 kg e 400 kg, respectivamente, para fêmeas e machos), procura elevar a produção de leite e o cuidado maternal com a cria, reduzir a idade ao primeiro parto das novilhas (média de 29 meses) e destacar, na carcaça, acabamento precoce com musculosidade, priorizando desempenhos entre os níveis 3 (mediano) a 4 (uniforme).

*Matéria publicada originalmente na edição 440 da Revista DBO.

Fonte: Portal DBO


 Voltar  Enviar para um amigo  Imprimir

 30/05/2019 - Novo Site CIA/UFPR
 13/05/2019 - Acordo pode fortalecer EUA no mercado de carne bovina do Japão
 13/05/2019 - Queda no preço do milho deve elevar confinamento em até 7%
 13/05/2019 - Exportações de boi em pé ajudam a sustentar preços de reposição
 13/05/2019 - Previsão do tempo para esta Terça-feira (14/05/2019)

 
 

Nome
E-mail