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16/02/2018
Intensificação impulsiona produção de fazenda em MT


Depois de quase desistir da pecuária, Agropecuária Fazenda Rosane eleva produtividade de carne de 7@/ha para 38@/ha em área intensificada
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima." A famosa frase no samba "Volta por cima", do compositor Paulo Vanzolini, espelha o que aconteceu com a Agropecuária Fazenda Rosane, hoje uma referência em pecuária na região de Nova Bandeirantes, na Amazônia mato-grossense (região oeste do Estado, 1.020 km ao norte da capital, Cuiabá). Adquirida pelos atuais proprietários (família Della Rosa) há quase duas décadas, apresenta altos e baixos em sua história. Depois de desempenhos à margem de riscos nos primeiros anos, a propriedade amargou seguidos resultados negativos entre 2008 e 2012 no seu sistema extensivo de produção em ciclo completo. Seus pastos sofreram um processo progressivo de degradação e foram tomados por invasoras. Em quatro anos o estoque de gado despencou de 6.000 para 3.200 animais. A conta fechava no vermelho, na casa de meia arroba/hectare/ano.

A partir da safra 2013/2014 as coisas começaram a mudar, a começar pela eliminação da cria e a aposta em um sistema gradualmente intensivo de recria e engorda a pasto. Mas não foi nada fácil. Os proprietários, Devanir Della Rosa e o filho Henrique, por pouco não "jogaram a toalha". Ao persistirem, encontraram um caminho ainda hoje trilhado e em expansão. Na primeira área intensificada de 143 ha (equivalente a 5,7% dos pastos da fazenda, justamente o setor em melhor condição), a produção de carne disparou de 7@/ha (safra 2013/2014) para 38,5@/ha. Apenas esta interferência injetou combustível e ânimo, elevando a média de toda a fazenda de pouco menos de 7 @/ha/ano para 11 @/ha/ano. O faturamento líquido mais do que dobrou, saltando de R$ 210/ha para R$ 488/ha.

Para a safra 2017/2018 mais 81 ha entram em intensificação. Enquanto isso, dois módulos de 22 ha cada estão em fase intermediária de preparação e outra parcela de 82 ha passa por um trabalho inicial de redimensionamento de pasto e cerca. "Nossa meta é introduzir na intensificação um pasto por ano até atingir 60% de nossa área produtiva, de aproximadamente 2.500 ha. Um quadro de conforto seria comprar 3.000, recriar 3.000 e abater 3.000 animais/ano", calcula o gerente-geral da fazenda, Walldon Manteli, primo de Henrique, que assumiu a função em 2013. Segundo ele, a propriedade atualmente compra, recria e abate 2.200 animais/ano.

Giro longo - A Fazenda Rosane foi adquirida pela família Della Rosa em 1998 com apenas 266 ha abertos como pastagem de mombaça e braquiária, boa parte abandonada, sem uso para a pecuária. Aos poucos, a área produtiva foi ampliada e a produção de carne atingiu a faixa entre 6 e 7@/ha, muito superior à média do Estado, atualmente em 3,4 @/ha/ano, segundo a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). No entanto, o giro era longo: os animais iam ao gancho com idade entre três e quatro anos. Para completar, a produção estagnou, com a infestação de invasoras, como o capim navalha, e com o crescente esgotamento dos pastos, quadro que começou a corroer o estoque.

"Até então, a gente agia como a maioria dos pecuaristas. Medíamos a produção só quando mandávamos o gado para abate. Ou seja, não medíamos nada. Existia a ideia do quanto de carne produzíamos, mas não havia parâmetros de custo. Vieram daí os maiores desafios: admitir que não sabíamos fazer e tomar a decisão de sair da zona de conforto", confessa Waldon, que trabalha na propriedade do tio há 16 anos.

A ascensão dele ao cargo de gerente-geral ocorreu justamente no momento de transição e de incertezas, mas também de expectativa e de esperança. Seu primo Henrique (então aos 24 anos) estava concluindo o curso de zootecnia e havia passado seis meses cumprindo estágio nos Estados Unidos. "Ele chegou com todo o gás e pronto para assumir a sua parte na gestão da fazenda", conta.

Depois de levantar a produtividade da propriedade, Henrique apresentou ao seu pai um projeto que propunha a adoção de um sistema de recria e engorda de machos em pastagens. Aprovada a ideia, logo foram descartadas as matrizes, assim como o rebanho Nelore PO que vinha sendo desenvolvido desde 2007.

De imediato, os primos resolveram reformar 150 ha de pastagem. A decisão, no entanto, quase quebrou de vez o negócio. "O maquinário que tínhamos não dava conta da área; arrancávamos as invasoras, mas elas continuavam a se multiplicar. Acabamos perdendo o controle sobre o capim navalha. Foi um desespero. Quase deixamos a pecuária", conta Manteli.

A virada - O impasse durou até o momento em que Henrique Della Rosa mergulhou em uma pós-graduação em Piracicaba, no interior de São Paulo, e conheceu o professor Moacyr Corsi, da Esalq/USP, agrônomo e doutor em ciência animal e pastagens. O pecuarista foi fisgado pelas argumentações de Corsi, que pregava a possibilidade de aumentar a produção de carne de 7 @ para uma faixa entre 30 e 50 @/ha, dando prioridade ao manejo adequado do pasto.

"Na época, ele estava colhendo os primeiros resultados de um projeto (Pecuária Verde) em Paragominas, no Pará. Os números me deixaram bastante impressionado. Lembro que, ao chegar de uma aula do professor, por volta da meia-noite de uma sexta-feira, corri para acordar meu pai e relatar a ele boa parte do que tinha ouvido na Esalq", conta Henrique.
Mas, antes de comprar a ideia, a família teve que compreender o que seria feito, além de convencer seus 12 funcionários a abraçarem a causa. "Passamos por uma restruturação mental. Ninguém acreditava na possibilidade de atingirmos 30@/ha/ano. Tivemos de falar que a meta seriam 15@ para que houvesse adesão da equipe", lembra Waldon.

Henrique Della Rosa conta que quando acertou com o professor Corsi, a família tinha noção de onde poderia chegar, mas não de como fazer isso. Até porque a fazenda contava com boas gramíneas - o panicum mombaça e as braquiárias xaraés e marandu. "Neste sentido, o principal papel desenvolvido pelo professor foi - e ainda é - de nos orientar sobre a forma correta de intensificação. Na prática, ele nos ensinou a manejar a forragem, melhorando inicialmente o ganho de peso e posteriormente a taxa de lotação. Com o aumento da taxa de lotação, aprendemos a redimensionar cochos e bebedouros, e a melhorar o manejo sanitário", explica Henrique.

O gerente Waldon confessa que se surpreendeu com os métodos de Corsi: "Achei que a gente ia começar adubando pastagem, algo que já fazíamos com nível tecnológico baixo e que tinha como resultado desperdício de capim. Ele descartou a ideia, explicando que antes de qualquer coisa tínhamos de aprender a colher nossa produção de pasto. Descobri que não sabíamos nada. Fiquei chocado. Tive até depressão", conta.

No redimensionamento de pasto, os 143 ha foram divididos em 12 piquetes e a adubação ganhou em fundamentação. Passou a ser feita uma análise de solo para se definir o nível de adubação. Neste processo, são coletadas amostras em cerca de 30 pontos por piquete. "Trata-se de uma análise superficial de solo e de micronutrientes. Desconheço algo semelhante na região para a pecuária", afirma Manteli.

Sinais de recuperação - Os primeiros sinais de recuperação vieram já na primeira safra após as mudanças (2014/2015). O ganho de peso médio dos animais saltou de 341 gramas/dia para 686 gramas/dia; a lotação passou de 1,2 para 2,35 UA/ha (unidade animal/hectare) e a produtividade por hectare fechou em 22,8@/ha, muito além das 15@ colocadas como meta inicial para a equipe. "Isso apenas com o manejo correto de pastagens, sabendo a hora certa de colocar e de tirar os animais do pasto", revela Manteli.

Na safra 2015/2016, os números da área de 143 ha ficaram ainda melhores: a taxa de lotação média (águas + seca) foi de 3,1 UA/ha na safra, com projeção de 3,74 UA/ha para a safra atual; a margem entre a arroba comercializada e seu custo ficou em 2,1@, com previsão de mais que triplicar (7,59@) nesta safra.

Ciclo curto e suplementação - Alguns procedimentos pontuais foram de difícil assimilação, como a pesagem de todos os animais a cada 30 ou 60 dias. "A gente simplesmente não pesava", revela Waldon Manteli. Por outro lado, toda a equipe vibrou com a redução de um ano do ciclo produtivo em toda a fazenda, com os animais indo a abate aos 30 meses, ante a média de 42 meses até a safra 2013/2014. "Adquirimos animais pós-desmama sempre com peso superior a 200 kg. Até o abate, temos de colocar, em média, mais 340 kg. Alguns lotes de bezerros chegam à fazenda e entram no setor intensificado na seca para chegar no período das águas pesando em torno de 370 kg. Estes morrem com idade média de 24 meses com peso médio de 19@", conta o gerente.

O uso da área intensiva e o consequente desafogo de outros setores de pasto ajudaram neste encurtamento. Nas águas, os 143 ha recebem quase 5 UA/ha de lotação. "Com isso, consigo reduzir o número de animais em pastos menos tecnificados. Eles ficam com pouca lotação e alto resíduo. Essas áreas continuam sendo extensivas, mas produtivas. Em média, me garantem 9@/ha/ano, bem mais do que as 7@ que tínhamos em nossa melhor área antes das mudanças", informa Waldon.

A partir da safra 2016/2017, a Agropecuária Fazenda Rosane iniciou um trabalho estratégico de suplementação mínima com o objetivo de aliviar a carga dos pastos durante os meses secos (junho a setembro). "Sempre fizemos terminação a pasto, mas alguns animais passaram a ser acabados com a ajuda de ração. É coisa mínima, em torno de 0,5% do peso vivo. Na pesagem de março, separo aqueles que apresentam entre 440 e 479 kg. Tenho certeza de que mesmo que ganhem 900 gramas/dia não chegarão ao ponto de abate até o fim das águas. Assim, recebem uma suplementação média de 1,1 kg/dia e morrem até maio ou começo de junho. Os demais, acima de 480 kg, não recebem suplementação, pois em algum pasto extensivo vão conseguir um ganho médio diário mínimo de 600 gramas para serem abatidos antes da estiagem." Assim, Manteli consegue "limpar" a fazenda para o período seco, liberando pasto para atender a outras categorias (animais com peso entre 300 e 350 kg) que serão terminadas no ano seguinte.

Indagado sobre até onde pretende levar a intensificação na Agropecuária Fazenda Rosane, o proprietário, Henrique Della Rosa, diz que planeja, em médio prazo, elevar o rebanho (que já pulou de 3.200 para 4.300 cabeças em quatro anos) e manter uma taxa de desfrute alta (era de 37% na safra 2013/2014). "Até 2020 queremos chegar a 6.000 animais com uma taxa de desfrute próxima de 60%. Para isso teremos de suportar uma lotação anual acima de 2 UA/ha com um ganho médio de 550 gramas/dia", projeta.

*Matéria originalmente publicada na edição 442 da Revista DBO.

Fonte: Portal DBO


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