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23/05/2018
Brasil supera a febre aftosa – parte II


As duas estratégias do Mapa geraram intensos debates. No período entre 1993 e 2004, por exemplo, foram realizadas 34 reuniões de “circuitos”, com participação de mais de 2.300 pessoas. Criou-se um maior engajamento da iniciativa privada com o programa e uma disputa salutar entre os Estados pela elevação de seu status sanitário (em parte, por medo de isolamento). Já em 1991, um grupo liderado pelo pecuarista Pedro de Camargo Neto criou o Fundepec, Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo, com o objetivo de apoiar as ações governamentais de combate à aftosa. Essa entidade chegou a contar com orçamento anual de R$ 1,2 milhão, por meio de convênio com a Secretaria de Agricultura, que lhe repassava contribuições pagas voluntariamente por 7.000 pecuaristas.

Com esse dinheiro, a entidade ajudou a equipar e modernizar os escritórios de defesa sanitária do Estado, comprando móveis, veículos, combustível e computadores; reformando barreiras sanitárias; treinando funcionários e organizando cadastros. Em cinco anos, o índice de vacinação passou de 68% para 97% e São Paulo se livrou da doença. A iniciativa pioneira foi replicada por outros Estados, como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em 1994, no Mato Grosso, 94 associações de produtores, sindicatos rurais, leiloeiras e frigoríficos criaram o Fefa (Fundo Emergencial da Febre Aftosa), para equipar o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea), treinar vacinadores e criar 100 comitês municipais de erradicação da doença. Apesar de ter encerrado suas atividades em 2.000, o Fundepec SP se tornou um modelo para outros fundos de defesa sanitária. A sigla, aliás, sobreviveu, sendo hoje empregada de Norte a Sul do País.

“São Paulo capitaneou a primeira grande mobilização de pecuaristas para combater a doença no campo, fazendo reuniões em sindicatos, visitas em fazendas, campanhas de vacinação em regiões com baixa cobertura vacinal. Até então, a aftosa era tida como coisa exclusivamente de governo”, lembra Camargo Neto. Essa nova postura, segundo Sebastião Guedes, presidente setorial da carne bovina, garante que não haveria erradicação da enfermidade sem o setor produtivo, que passou a cobrar ações do governo e a monitorar a aplicação da vacina. Guilherme Marques, do Mapa, concorda: “A adesão dos pecuaristas foi crucial. Por isso digo que o Pnefa extrapola pessoas e instituições. É um programa de toda a cadeia pecuária bovina”. Como a vitória é proporcional ao esforço coletivo dispendido, esperam-se mais comemorações neste mês, também por parte do setor produtivo.

Vacina oleosa e teste Elisa
Na guerra epidemiológica contra a doença – que já soma 62 anos, se consideradas as primeiras campanhas regionais de imunização no Sul do País –, duas tecnologias fizeram total diferença: a vacina oleosa, desenvolvida pelo Centro Pan-americano de Febre Aftosa, e o teste Elisa, que permite avaliar a eficiência do produto, por meio da detecção de anticorpos no animal, confirmando se ele realmente foi imunizado. Essas tecnologias demandaram anos de pesquisa. Nos anos 50 e 60, se usavam macerados de tecidos retirados da língua de animais doentes (obtidas em matadouros) para produção de antígenos em escala incipiente. Nos anos 70 e 80, a oferta de vacina contra a aftosa aumentou, mas se trabalhava com o tipo aquoso, que garantia apenas quatro meses de imunidade aos animais, obrigando o produtor a vaciná-los três vezes por ano, o que diminuía o nível de adesão às campanhas. Com o advento da vacina oleosa, que garantia imunidade por seis meses, e sua adoção obrigatória a partir de 1996, o cenário mudou.

Conforme Emílio Salani, vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), essa nova ferramenta de controle epidemiológico, aperfeiçoada nos anos seguintes, tinha quatro características positivas: segurança, eficiência, praticidade (pois reduzia o número de vacinações anuais de três para duas) e alta disponibilidade, já que várias indústrias veterinárias passaram a fabricá-la no País. Atualmente, nove empresas produzem mais de 400.000 doses/ano para vacinação de todo o rebanho. “Isso garante um stand imunológico forte o suficiente para que os animais não sucumbam a eventuais agressões virais”, diz o executivo. A produção dessa vacina, acrescenta Salani, é uma das mais controladas do mundo, por meio de medidas de biossegurança (para evitar escape do vírus) e testes qualitativos feitos pelo Mapa.

Luiz Alberto Pitta Pinheiro, consultor técnico da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) também ressalta a importância da vacina oleosa: “Diria que a história do combate à febre aftosa no Brasil se divide em antes e depois desse produto”. Com uma memória invejável, Pinheiro diz ter atendido centenas de casos da doença como veterinário da Secretaria de Agricultura do Estado, principalmente nos anos 70 e 80. “A gente interditava as propriedades, tratava os animais, depois liberava, pois não se pensava em erradicação”, relata. O Rio Grande do Sul – por onde a aftosa teria entrado no País, vinda da Argentina e Uruguai; segundo Pinheiro, antes do registro oficial de 1895, em Minas Gerais – foi o primeiro Estado a usar a vacina oleosa, testada em 1972, na Estação Cinco Cruzes, em Bagé, hoje uma unidade da Embrapa. “A doença somente arrefeceu após o uso desse produto, que é um divisor de águas”, garante.


Fonte: Portal DBO




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