A abertura de mercado, o aumento das exigências dos consumidores, a questão ambiental e os avanços tecnológicos na área de biotecnologia tornam a produção no agronegócio, especialmente nas empresas rurais, cada vez mais complexa.

A necessidade de maior eficiência administrativa na agropecuária cria crescente demanda de sistemas de informação. Apesar de a adoção da informática ser ainda modesta no meio rural, comparada a outros setores da economia, a existência no mercado de mais de uma centena de softwares específicos e, principalmente, o surgimento recente de diversos sites na internet indicam o crescimento do uso e a importância da tecnologia da informação na agropecuária.

Empresas particulares e grupos de capital de risco investiram, nos últimos dois anos, cerca de U$ 16 milhões na criação de portais e sites, destinados exclusivamente à agropecuária. O número estimado de sites chega a 2.200.

O lançamento da maioria destes é recente, e a sua importância para a agricultura tem sido amplamente divulgada na mídia e em grandes feiras agropecuárias como o Agrishow. Entretanto, há ainda desconhecimento do potencial da internet, e o impacto dessa tecnologia tem sido pouco discutido. Com base na experiência do autor, consulta à bibliografia e resultados de pesquisas com produtores, serão analisados aqui os serviços na internet, enfocando seu impacto e benéficos reais nas empresas rurais.

A principal e mais evidente contribuição da internet é, sem dúvida, a disponibilização de informações. Dada a possibilidade de acesso a um número incalculável de dados, a baixíssimo custo, o maior problema de quem utiliza a internet para solucionar um problema prático é filtrar os dados que realmente são importantes.

Nos sites para a agropecuária, este problema se torna menos complexo e a tendência é uma especialização cada vez maior, na qual se criam áreas ou mesmo portais dedicados à exploração agropecuária específica. A oferta de informações existente é abundante e cobre ampla variedade de atividades agropecuárias. Alguns portais, como o portal do campo, oferecem recursos mais avançados, nos quais possíveis doenças são indicadas a partir de informações prestadas pelo agricultor. Informações direcionadas podem ser incluídas em cursos e treinamento via internet. O Senar já disponibiliza um curso de Administração Rural, coordenado pelo Departamento de Economia Rural da UFV, para seus monitores, via internet. Este mesmo Departamento está lançando um curso de Gestão do Agronegócio via internet, explorando esta forma de troca de informações, e outras Universidades já disponibilizam cursos voltados para o setor rural, também via internet.

O maior interesse das empresas que investem na internet é obter ganhos com o e-commerce, ou comércio eletrônico. A maioria dos sites privados permite a compra e a venda de insumos. Na área de compra, os principais sites existentes realizaram parcerias com fábricas de insumos, diminuindo, desse modo, as alternativas de compra dos produtores. Muitos portais, como o agrosite e o agropool, permitem a formação de grupos de compra, ampliando, portanto, o poder de barganha do produtor. Apesar de a compra ser feita virtualmente pela internet, a entrega ainda depende de processos logísticos. Grandes empresas atacadistas já estão adaptadas a essas novas exigências, implantando modernos sistemas de informação. O grupo Martins, de Uberlândia, é um exemplo. Na área de venda, já existem portais específicas para a comercialização de produtos agrícolas. O portal Cafesall atua na comercialização de café, e, no Agro1, é possível participar de leilões de gado.

Inexistentes no meio rural, existem ainda soluções de sistemas na internet que integram diferentes empresas; são os chamados sistemas marketplace. Esses sistemas permitem, por exemplo, que um vendedor de uma empresa tenha informações, em qualquer computador ligado à internet, sobre estoques e sobre condições que pode oferecer a cada cliente. Tão logo a compra é realizada, o sistema atualiza os estoques, informa departamentos e outros vendedores da empresa e também os fornecedores, ou seja, é como se as empresas da cadeia de produção utilizassem o mesmo sistema, o que permite um grande avanço na coordenação da cadeia, com ganhos de eficiência em tempo e recursos. O controle sanitário poderia utilizar sistemas semelhantes, para facilitar a notificação e permitir reação rápida no controle de doenças contagiosas. Com a integração cada vez maior entre produção agrícola e indústrias de insumos e processamentos, soluções desse tipo poderiam contribuir, significativamente, para a competitividade de cadeias de produção no agronegócio.

Utilizando a mesma tecnologia dos marketplace, outro serviço oferecido mediante internet são os softwares para web. Na agricultura, soluções desse tipo permitiriam que, em diferentes fazendas de um mesmo grupo ou associação, dados fossem digitados e os resultados calculados instantaneamente e acessados de qualquer computador ligado a rede. Na bovinocultura de corte, por exemplo, uma solução desse tipo permitiria que um pecuarista tomasse decisões importantes de compra e venda fora da fazenda, com base em dados atualizados e processados de suas propriedades.

Apesar da grande quantidade de informações fornecidas por sites específicos, para um produtor rural, a informação deve ser analisada no contexto específico de sua propriedade. A necessidade de assistência técnica é cada vez maior e um serviço, ainda praticamente inexistente no meio rural, seria permitir que fossem feitas consultorias pela internet. Apesar da deficiência óbvia da ausência do consultor in loco, a redução de custos certamente permitirá que, em muitos casos, o produtor obtenha ajuda para solução de seu problema, seja por questões de tempo e, ou, por distância, o qual não pudesse ser resolvido sem auxílio externo. Os benefícios desse serviço seriam maiores ainda se tal consultoria pudesse acessar informações sobre a empresa em software para web. No Pólo de Software da UFV, um projeto de um sistema de controle de custo de produção na bovinocultura, no qual os resultados de cada empresa são analisados por um consultor sênior, está em desenvolvimento.

No Brasil, os benefícios potenciais da internet podem ser inviabilizados por falta de infra-estrutura, pois, em muitas regiões, as ligações telefônicas são precárias. Com o desenvolvimento acelerado da telefonia, o mais importante obstáculo para o avanço da informática será a falta de recursos financeiros e humanos. O maior risco para o país é o aumento do desnível tecnológico entre produtores modernos e produtores rurais de subsistência. Com o aumento da pressão por eficiência nas empresas rurais, agricultores que não tiverem acesso à tecnologia da informação, certamente, ficarão em situação ainda mais desfavorável. Associações de pequenos produtores certamente desempenharão papel importante na viabilização dos benefícios da internet para estes produtores.

Como conclusão final, não se deve esquecer que a informática é um meio que permite a comunicação entre as pessoas e que, mesmo com a melhor e mais avançada tecnologia, se a fonte de dados não estiver disposta a compartilhar suas informações e o destinatário não quiser ou puder recebê-la, não será possível obter benefícios concretos na solução de problemas práticos nas empresas rurais.

FONTE: Portal do Agronegócio