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18/05/2012
Trajetória das commodities pode fragilizar o país


Não é mais um tabu considerar a saída da Grécia da zona do euro. Essa afirmação foi ouvida por vários analistas e consta em editoriais de jornais globais nos últimos dias. Depois de meses de tentativas de colocar o país em rota de recuperação da confiança após a reestruturação da dívida, líderes políticos, organismos internacionais e o mercado financeiro começam a falar abertamente dessa possibilidade.

A Grécia, isoladamente, tem uma economia diminuta, que representa apenas 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da região. Em um cenário cada vez mais provável, de que o país seja impelido a sair da união monetária, certamente haveria um conjunto de variáveis que o levariam a uma recessão profunda, uma disparada da inflação e da dívida em nova moeda e uma situação grave de desemprego e perda de renda.

Analistas veem basicamente duas possibilidades de desfecho para a tragédia grega: uma saída ordenada, que se traduz em acordos prévios com o Banco Central Europeu (BCE), FMI e credores - algo bem menos provável - ou uma ruptura inevitável precipitada por corrida bancária e incapacidade de solvência. O mercado vem reduzindo sua exposição à Grécia há vários meses, houve tempo para se antever o pior. Espera-se, no limite, ações coordenadas dos bancos centrais (como em 2008), intervenções pesadas do BCE, entre outras saídas.

Mas, ainda assim, um contágio pela via financeira que atingisse mais duramente os países periféricos europeus como Espanha e Portugal, além da Itália, precipitaria uma interrupção dos fluxos de crédito e de liquidez em toda a Europa, como de resto no mundo, aumentando sobremaneira a aversão ao risco. Importante lembrar que os bancos europeus são os mais importantes provedores de crédito ao comércio exterior no mundo e muitos deles, os menos preparados, poderiam quebrar em um cenário extremo.

Criar modelos para captar o impacto desses acontecimentos sobre os ativos mundo afora é tarefa quase impossível neste momento, atestam vários analistas consultados pelo Valor. Mas o que se pode prever, com base em eventos passados, é que o impacto sobre a economia mundial seria considerável, amplificando os sinais já vistos de fraqueza da atividade em motores como a China, altamente importante para o Brasil em termos de trocas comerciais. Esse seria um forte canal de transmissão da crise para a economia brasileira, mas não o único.

Os indicadores chineses vêm surpreendendo negativamente os analistas nos últimos meses, ainda que o governo tenha anunciado uma meta de crescimento de apenas 7,5% para 2012. Ocorre que, ano após ano, as metas oficiais foram batidas e a expectativa era de que este cenário se repetisse.

O crescimento de apenas 0,3% nas importações e de 4,9% das exportações registrado no mês de abril foi prova inequívoca da inversão de trajetória da economia do país. A corrente de comércio chinesa neste mês subiu apenas 2,7%, de 7,1% em março. Outros indicadores como o PMI (índices de gerentes de compras) já vinham antecipando esse quadro, levando a revisões mais contundentes de projeções para o PIB deste ano.

O menor ritmo da economia reflete uma estratégia do próprio governo chinês. Na crise de 2008, a injeção de liquidez via política fiscal e monetária foi tamanha que criou bolhas, como a imobiliária. O Brasil, inclusive, se beneficiou muito da demanda por minério de ferro nesse período, o que ajudou a amenizar o impacto da crise americana no país. De lá para cá, o governo chinês tomou diversas medidas restritivas para equilibrar o perfil do crescimento, buscando uma economia menos focada no setor externo e mais voltada ao consumo.

Mesmo as ações recentemente tomadas pelo banco central chinês, como as reduções de depósitos compulsórios, não têm sido suficientes para dar novo impulso à atividade, porque a demanda externa vem se retraindo e não parece ser objetivo das autoridades reverter todas as restrições que foram impostas à economia. A participação da União Europeia na pauta de exportações da China caiu de 20% para 18%, uma queda que foi só marginalmente compensada por um aumento da demanda americana. O Japão, por sua vez, mostra melhor performance (uma exceção na Ásia), porém advinda de estímulos governamentais que têm prazo para acabar.

Como em 2008, a crise na zona do euro já vem enfraquecendo os preços de commodities, o que representa um risco elevado para o balanço de pagamentos brasileiro. O índice CRB (Commodities Research Bureau, que exclui preços de energia) teve recuo de 12% em média no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Do fundo do poço atingindo em fevereiro de 2009, após queda de 54% no auge da crise nos Estados Unidos, o índice recuperou-se até abril do ano passado e desde então desabou 22%. Todos os subgrupos do indicador caíram, mas o destaque foram as matérias primas, especialmente o minério de ferro, que perdeu 20% de seu valor nesse período. Já as commodities agrícolas, apesar de desenharem a mesma tendência, sofrem menos por serem mais inelásticas ao crescimento.

Os termos de troca brasileiros caíram 7,7% do auge recente visto em setembro do ano passado, justamente espelhando o comportamento dessas variáveis, e já aponta uma perspectiva mais cautelosa nas contas externas.

A trajetória dos preços das commodities é o grande ponto de dúvida sobre a demanda mundial depois de um eventual recrudescimento da crise na zona do euro. É consenso entre analistas que, por mais que haja injeções maciças de liquidez, é o crescimento (ou a falta dele) que determinará até que ponto elas podem cair, levando junto a robustez dos países emergentes exportadores, como o Brasil.

FONTE: Valor Econômico


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