Os pecuaristas que me perdoem, mas qualidade é fundamental!
Vou usar a inspiração do poeta Vinicius de Moraes que disse: “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental…” e dizer que: “Os pecuaristas que me perdoem, mas qualidade e fundamental”. A euforia da subida de preços começou novamente, a oferta que se mantinha firme nos últimos meses teve ligeira redução e com a aproximação do final da entressafra os preços começam a se elevar gradativamente. Nas duas últimas semanas o Indicador LAPBOV/UFPR apresentou uma elevação em torno de 1%, com a arroba cotada para o inicio desta semana em R$ 96,88 e com tendência de elevação até a semana que vem. O pecuarista está contente, o ciclo pecuário tão característico vem perdendo força no diferencial de preço entre o ciclo de baixa e de alta e a arroba vem se mantendo em patamares satisfatórios nos últimos anos. Mas o pecuarista fica sempre com o preço na cabeça e isso é o que importa. Não está errado, pois é com dinheiro que a máquina da pecuária, como todas as outras, roda. Mas na pecuária acontece uma coisa muito diferente de outros meios de produção, o dono produto tenta colocar preço no que vende, mas ele, o preço, está mais na mão de quem compra do que de quem vende. Aí começa a “choradeira” do setor. De um lado pecuarista quer receber mais, de outro os frigoríficos que querem pagar menos, e nesse jogo quem perde é o consumidor. Sei que é difícil chegar a um consenso, e vou fazer aqui o papel de “advogado do diabo”, para isso vou voltar ao inicio desta coluna: “Os pecuaristas que me perdoem, mas qualidade e fundamental”. A velha briga do “entreguei” um animal “bom” e não me pagaram o que valia, ou “estavam gordos que só vendo” e o frigorífico disse que faltou gordura, parece ser a briga mais antiga que existe neste setor. Mas existe uma afirmação que gosto muito que é “contra números não há argumentos”. O LAPBOV/UFPR vem a três anos realizando um trabalho minucioso de avaliação de carcaças em um frigorífico do estado do Paraná. O trabalho apresenta números interessantes. Até o mês de agosto de 2012 foram avaliadas mais de 190.000 carcaças, em torno de 76% delas de machos e 24% de fêmeas. Os resultados de qualidade são no mínimo assustadores. Vou deter-me somente na avaliação dos machos. A idade dos animais abatidos não é ruim em torno de 55 % deles tem idade máxima de 30 meses. O problema está nos números de qualidade. Aproximadamente 60% deles apresentam gordura ausente ou escassa. Somente 6 % apresenta acabamento de gordura uniforme. Carcaças subconvexas e convexas (para quem não sabe isto é parâmetro de projeção de cortes nas partes nobres do animal) é em torno de 10,5 % somente. Há também mais um número importante a comentar, quase 7% das carcaças apresentou algum tipo de machucadura, logo, parte perdida para comércio. Diante destes números fica difícil discutir uma boa remuneração. Aí caímos em mais um dilema da pecuária: “Não recebo por qualidade, por isso não atento para isso, e o outro lado diz: não pago por qualidade porque não recebo isso”. Está certo que não vamos nunca chegar a ser uma Argentina, com gado europeu, com um padrão de animais muito bom e com uma qualidade de carne geral de dar inveja. Mas está na hora de pensamos um pouco nisso. Até porque o consumidor está ficando mais exigente e se a carne está ficando cara ele também quer comer um produto de melhor qualidade. Quando este dilema vai se resolver? Quem sabe um dia a classificação saia da teoria e passe a prática, obrigatória e oficial, onde o produto passa a ser pago, além do preço, por qualidade. Assim haverá estimulo para produzir tanto quantidade como qualidade. Mas para produzir qualidade há um aumento de custo, etc, etc… Acho que a pecuária já possui técnicas suficiente para melhor a qualidade sem grandes impactos de custo. Mas a respeito de novidades tecnológicas eu vou falar em outro momento. Texto de autoria do Professor Dr. Paulo Rossi Junior FONTE: Negócios da Terra
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