O que você achou do nosso site?



27/08/2013
Há algo errado com o gado nos EUA. Alguns acham que são os aditivos


Ultimamente, um número cada vez maior de bovinos enviados para abate nos frigoríficos dos Estados Unidos tem mostrado sinais de que há algo errado com eles. Alguns caminham de maneira rígida, outros têm dificuldade para se movimentar ou ficam deitados de língua para fora. E há alguns que se sentam em posições estranhas, mais parecendo um cachorro do que um boi.

"Já vi gado descendo a rampa do caminhão na ponta dos pés", diz Temple Grandin, doutora em ciência animal e consultora da indústria pecuária. "Normalmente, eles descem a rampa rápido e pulam para fora. Não queremos ver algo anormal tornar-se normal."

Grandin e outros cientistas especializados em pecuária começaram a suspeitar que a origem dos problemas está nos suplementos dados ao gado para ganhar peso chamados beta-agonistas, que só recentemente passaram a ser usados pela indústria de maneira mais ampla.

Na semana passada, a farmacêutica americana Merck Sharp & Dohme (MSD) anunciou uma suspensão temporária das vendas do Zilmax, um aditivo para ração, em resposta ao aumento das preocupações sobre o bem-estar animal na indústria pecuária americana devido ao uso de produtos farmacêuticos na produção de carne.

"Desde que foi aprovado nos EUA, mais de 25 milhões de animais utilizaram o Zilmax, e eu tenho certeza que nós não deixamos passar nada nos estudos de segurança e eficácia, que foram revisados por agências reguladoras", diz KJ Varma, diretor de pesquisa e desenvolvimento da unidade de saúde animal da MSD.

A companhia informou que planeja realizar um novo estudo dos efeitos da droga sobre o gado, com membros de um conselho de saúde animal composto por pesquisadores escolhidos pela empresa.

Antes do anúncio da MSD, a Tyson Foods Inc., a maior processadora de carnes dos EUA em vendas, informou aos fornecedores de gado a decisão de suspender a compra de animais alimentados com Zilmax devido a problemas observados pela empresa e sugestões de especialistas em saúde animal de que o medicamento poderia ser a causa da alteração no comportamento.

Originalmente concebidos para aliviar a asma em humanos, os beta-agonistas são adicionados à ração animal durante as últimas semanas antes do abate para promover ganho de peso, estimulando o crescimento da massa muscular em vez de gordura. Eles não são hormônios, mas o Zilmax, ou zilpaterol, pode adicionar cerca de 2% — de 10 a 15 quilos — no peso final de um animal. Seu rival, o Optaflexx, à base de ractopamina, pode adicionar até nove quilos.

Beta-agonistas como o Zilmax e o Optaflexx, que é fabricado pela Elanco, a divisão de saúde animal da Eli Lilly & Co., são produtos de um negócio em expansão de suplementos e antibióticos desenvolvidos nos últimos anos para ajudar os animais a ganharem peso rapidamente ou prevenir doenças.

Ambos os medicamentos foram aprovados em 2006 e 2003, respectivamente, pela FDA, a agência americana que regula as indústrias de alimentos e medicamentos. Eles ganharam popularidade rapidamente e são hoje usados em cerca de 70% do gado vendido aos frigoríficos do país, de acordo com a MSD. As vendas do Zilmax nos EUA e Canadá atingiram US$ 159 milhões em 2012.

"Apesar da FDA ter recebido apenas um número pequeno de relatos de problemas em bovinos tratados com zilpaterol, sempre estamos interessados em novas informações sobre a segurança e eficácia dos medicamentos animais que aprovamos", disse um representante da agência.

Os pecuaristas americanos adotaram de forma mais ampla o uso de beta-agonistas depois que vários anos de seca elevaram os preços do milho, o principal ingrediente da ração bovina, a níveis recordes. Este ano, a previsão de uma enorme safra de milho fez os preços voltarem a níveis moderados.

À medida que "os preços dos grãos subiam, as margens no nosso negócio ficaram extremamente apertadas", diz o pecuarista Gerald Timmerman, que faz parte da terceira geração de uma família que cria gado em Nebraska e no Colorado. "Esse foi o catalisador do impulso na demanda pelo Zilmax."

Hoje em dia, diz ele, "só de passar pelos currais, dá para identificar cada um dos animais que estão usando o medicamento. Eles parecem atletas musculosos [...] No meu ponto de vista, sinto que não foi a decisão mais correta."

Os frigoríficos, que enfrentam uma redução nos rebanhos e procuram novas formas de expandir a quantidade de carne disponível para a venda, estão ao mesmo tempo se deparando com uma crescente demanda global por carne livre de medicamentos.

Em junho, a Smithfield Foods Inc., o maior produtor e processador de suínos do mundo, dedicou metade de sua capacidade ao abate de porcos que nunca foram alimentados com ractopamina, um beta-agonista que foi banido na Rússia em 2012, e também foi proibido no processamento de porcos destinados à China e a União Europeia.

"A empresa está aproveitando a sua plataforma integrada para atender a crescente demanda por carne suína sem ractopamina, principalmente nos mercados de exportação", disse um porta-voz da Smithfield.

Caso removam o Optaflexx da ração de suínos e bovinos, os produtores terão de usar 2,3 milhões de toneladas de milho a mais por ano, disse um porta-voz da Elanco. Também exigiria o abate de 10 milhões a mais de cabeças de gado por ano para produzir a mesma quantidade de carne sem beta-agonistas e outros produtos que são normalmente usados para aumentar o peso e acelerar o crescimento, incluindo o uso de esteroides.

A Tyson informou em um e-mail que a proibição recente de animais alimentados com Zilmax não foi motivada pelo desejo da empresa de ter acesso a mercados de exportação, mas é resultado "das nossas próprias observações sobre o bem-estar animal, bem como da opinião de veterinários e pesquisas independentes sobre o gado e de especialistas no bem-estar animal".

Desde o anúncio da Tyson, a americana National Beef Packing Co. e a brasileira JBS, dois frigoríficos gigantes, informaram que não pretendem mudar suas práticas de compras de gado.

O porta-voz da JBS, Cameron Bruett, diz que a empresa, a maior processadora de carne do mundo, também tem notado problemas ambulatoriais em bovinos enviados para o abate, mas não foi capaz de determinar uma causa direta. Se uma associação com o uso de beta-agonistas for comprovada, diz ele, a JBS "pode mudar de estratégia".

Guy Loneragan, um epidemiologista veterinário e professor de segurança alimentar e de saúde pública da Universidade do Texas, detectou uma incidência de 70% a 90% maior de mortes em animais alimentados com beta-agonistas. Mesmo assim, mortes em animais na fase final de alimentação são raras.

Alguns oponentes aos beta-agonistas sugerem que as drogas representam uma preocupação que vai além do bem-estar do animal e pode ter efeitos na saúde humana e no meio-ambiente que ainda têm que ser cuidadosamente estudados.

"Não é bom para ninguém que os animais que estão indo para o abate não estejam 100% saudáveis", diz Garry Frank, um veterinário e professor em ciências clínicas da Universidade Estadual do Colorado. "Se é devido às drogas ou não, precisamos descobrir."

Fonte: The Wall Street Journal


 Voltar  Enviar para um amigo  Imprimir

 30/05/2019 - Novo Site CIA/UFPR
 13/05/2019 - Acordo pode fortalecer EUA no mercado de carne bovina do Japão
 13/05/2019 - Queda no preço do milho deve elevar confinamento em até 7%
 13/05/2019 - Exportações de boi em pé ajudam a sustentar preços de reposição
 13/05/2019 - Previsão do tempo para esta Terça-feira (14/05/2019)

 
 

Nome
E-mail