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08/10/2013
Nelore: conheça mais sobre a raça que representa 80% do gado de corte brasileiro


O Projeto Raças é uma série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham diretamente com cada uma dessas raças.

Histórico da raça

A história da raça Ongole, ou Nelore, como é conhecida no Brasil, começa mil anos antes da era cristã, quando os arianos levaram os animais para o continente indiano.

Nelore é o nome de um distrito da antiga Província de Madras, Estado de Andra, situada na costa oriental da Índia, onde foram embarcados os primeiros animais para o Brasil.

O rebanho da raça Nelore no Brasil

A trajetória que transformou o Ongole indiano no Nelore brasileiro, começa na primeira metade do século XIX, de quando datam os primeiros registros de desembarque no país de zebuínos originários da Índia.

A história descreve que a primeira aparição do Nelore no país teria ocorrido em 1868 quando um navio, que se destinava à Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de animais da raça a bordo. Os animais teriam sido comercializados, permanecendo no país.

Dez anos depois, em busca de animais exóticos para trazer ao Brasil, Manoel Ubelhart Lembgruber teve contato com a raça Ongole durante uma visita ao zoológico de Hamburgo, na Alemanha, e de lá promoveu a importação de um casal de animais da raça, em outubro de 1878. Posteriormente, outras partidas oriundas diretamente da Índia aportaram no Rio de Janeiro. A raça Nelore foi então se expandindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, São Paulo e Minas Gerais. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico, começaram a ser definidas as características raciais do Nelore.

As duas últimas e significativas importações de reprodutores Nelore aconteceram entre os anos de 1960 e 1962. Nesse período desembarcaram no país, em Fernando de Noronha, onde foram submetidos a quarentena, grandes genearcas como Kavardi, Golias, Rastã, Checurupadu, Godhavari, Padu e Akasamu que são a base formadora das principais linhagens de Nelore.

Hoje, estima-se que o Brasil possui um rebanho com mais de 200 milhões de bovinos de corte e leite criados a pasto, dos quais 80% do gado de corte é Nelore ou anelorado, o que equivale a mais de 100 milhões de cabeças.

O Nelore brasileiro, além de ser considerado hoje como um patrimônio legitimamente nacional, produz carne saudável e natural, exportada para mais de 146 países e cada vez mais demandada por consumidores esclarecidos do mundo todo.

Associação Brasileira dos Criadores de Nelore do Brasil – ACNB

A ACNB é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 7 de abril de 1954. Sua sede está localizada na capital paulista. Possui ainda um escritório junto à sede da ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, em Uberaba/MG. Tem por finalidade integrar criadores, invernistas e demais pecuaristas em torno de um objetivo comum: fortalecer e defender a raça que representa 80% do rebanho de corte nacional. A associação conta com 15 regionais que estão localizadas em 88,8% do território nacional, afirma Pedro Gustavo Novis, presidente da ACNB.

Segundo Pedro, o Ranking Nacional da Raça Nelore foi criado em 1993 pela ACNB, durante a gestão do pecuarista Eduardo Biagi com o objetivo de estimular e divulgar o progresso genético da raça. Sob a forma de um campeonato, o Ranking contabiliza as pontuações obtidas através da competição de animais nas exposições agropecuárias oficializadas pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) em todo país.

Em 2011/2012 o Ranking Nacional contabilizou 148 exposições, nas quais foram submetidos e julgados mais de 4.000 animais de 255 expositores, em 18 estados do País.

Em 1999, a ACNB iniciou uma nova linha de trabalho, estendendo sua atuação aos criadores de gado comercial, e assumindo um novo desafio: desenvolver uma marca para a carne do Nelore. Assim teve início a promoção dos abates técnicos que subsidiaram o desenvolvimento e deram origem ao Programa de Qualidade Nelore Natural – PQNN. Desde 2001, a marca Nelore Natural. Boi de Capim. Carne Saudável. leva a marca do pecuarista até as mesas dos consumidores brasileiros, afirma Pedro.

Após o início das operações do PQNN, os abates técnicos passaram a ter a função de mapear o desempenho frigorífico da raça Nelore no país e orientar os seus participantes quanto aos parâmetros de melhor liquidez de mercado. Passaram então a serem organizados sob a forma de um campeonato anual: o Circuito Boi Verde de Julgamentos de Carcaças, diz o presidente.

Segundo o representante, o projeto mais recente da ACNB é a instituição da Universidade do Boi e da Carne, um órgão de difusão de tecnologia que pretende formar uma legião de multiplicadores, de forma a ampliar e potencializar o trabalho de disseminação de conceitos importantes à evolução do mercado.

Assim sendo, em 2012-2013, a  associação tem dado continuidade e buscado ampliar todos os seus projetos. Em especial vale destacar o crescimento do Programa de Qualidade Nelore Natural - PQNN,  que pode ser demonstrado em números, pois entre janeiro e agosto de 2013 foram abatidos dentro do Programa 256.358 animais que resulta em uma média de 32 mil animais por mês. Foram premiados 338 pecuaristas que receberam em média R$ 2,25 a mais por arroba@. A média de R$ 37,72 por animal premiado e média de R$ 5.994,22 recebido por pecuarista, afirma entrevistado.

A ACNB tem também procurado cada vez mais estender seu trabalho aos criadores de animais comerciais. Desde 2012, tem oficializado e apoiado a realização de Leilões de animais Nelore não PO (puro de origem). Em relação ao tradicional trabalho de oficialização, já consolidado entre os promotores dos leilões Elite, os benefícios oferecidos são os mesmos dos leilões de animais PO, porém a taxa de oficialização é de apenas 0,25%. Ou seja, metade do percentual cobrado pela chancela de leilões de animais PO. Em 2012 e 2013, por exemplo, a ACNB esteve diretamente envolvida na realização do 1° e 2° Leilão Ranking Nelore Bataguassu, que em sua última edição registrou faturamento de R$ 1,227.791.00.

E para o produtor, quais são as vantagens em se associar na ACNB?

Para alcançar melhores resultados em um ambiente cada vez mais competitivo, é preciso aliar esforços e metas comuns. Segundo Pedro Gustavo Novis, presidente da ACNB, esta é a vantagem de ser um associado da Nelore do Brasil e suas associações conveniadas. É através destas entidades que os neloristas, de todo o país, se fazem representados e têm os seus interesses defendidos.

Características zootécnicas da raça

Segundo os entrevistados para esse artigo, a rusticidade do nelore e seu poder de transformar fibras, inclusive as de baixa qualidade em carne e leite são suas principais características.

O Nelore é resistente ao calor devido à sua grande superfície corporal e por possuir maior número de glândulas sudoríparas. As características de seus pêlos também facilitam o processo de troca de calor com o ambiente. Além disso, o trato digestivo é 10% menor em relação às raças de origem europeia. Portanto seu metabolismo é mais baixo e gera menor quantidade de calor. Os machos e as fêmeas apresentam elevada longevidade reprodutiva.

Possui capacidade de aproveitar alimentos grosseiros. Apresenta resistência natural a parasitas, devido às características de seus pelos, que impedem ou dificultam a penetração de pequenos insetos na superfície da pele ou que aí tentam se fixar. A pele escura, fina e resistente, dificulta a ação de insetos sugadores, além de produzir secreção oleosa repelente, que se intensifica quando os animais estão expostos ao calor.

De porte médio, sua ossatura é leve, robusta e forte, com musculatura compacta e bem distribuída. A masculinidade e a feminilidade são acentuadas. O temperamento é ativo e dócil. A raça possui variedades com chifres e mochos. O cupim tem papel fisiológico fundamental, servindo como reserva de energia em situações emergenciais.

O aparelho reprodutivo dos animais é especialmente importante. Na fêmea, o sistema mamário é composto por pequenos tetos, o que facilita a primeira mamada do recém nascido. A garupa ligeiramente inclinada facilita o parto e prepúcio mais reduzido e alto conferem maior eficiência reprodutiva aos machos.

Em suma, as características fisiológicas do Nelore fizeram com que a raça se adaptasse muito bem às condições tropicais brasileiras, tornando–se uma opção para a produção de carne nas diversas, e adversas, condições a que é submetido nas tradicionais regiões de produção pecuária do país.

O melhoramento deve ser contínuo, tanto nos aspectos produtivos como mercadológicos. A seleção animal sempre deve buscar a maior eficiência produtiva, a fidelização do consumidor e a agregação de valor que possa ser distribuído entre todos os elos da cadeia.

Quais são os desafios para o Nelore atual?

Rodrigo Dias, analista técnico da CRV Lagoa, reforça os pontos fortes listados acima e ainda salienta que o Nelore ainda precisa de alguns ajustes, tais como as demais raças de bovinos de corte.  Ou seja, embora apresentem:

- Rusticidade: o bezerro nasce, cresce e se desenvolve sem ajuda e horas depois já está junto com o rebanho;
- Resistência a endo e ecto parasitas;
- Aclimatação nos ambientes mais impróprios; e
- As cores da pele e pelo protegem o animal  dos raios ultravioletas e refletem a luz do sul.

Há dois pontos, em sua opinião, que precisam ser melhorados:

- Precocidade sexual: as fêmeas precisam entrar na estação reprodutiva mais jovens e os machos precisam ter DEP´s para CE maior;
- Mais precocidade de acabamento: como utilizou-se muito o critério único de seleção (peso) os animais acabaram ficando mais tardios, especialmente os puros de origem.

Quais os principais cruzamentos que podem ser realizados com base nesta raça?

Há uma infinidade grande de cruzamento e possibilidades. Importante, mais do que fazer o cruzamento é procurar ajustar o grupamento genético as condições da fazenda.

Segundo Rodrigo Dias, em propriedades pouco tecnificadas, com baixo aporte nutricional e estratégia de mineralização pouco eficiente o cruzamento não responde bem. Cruzamento não é solução para todos os problemas e em alguns casos pode representar a perda da competitividade do sistema.

Em todos os casos os técnicos precisam ajustar os gargalos da propriedade antes de mudar o “grau de sangue” da fazenda.

O cruzamento trás consigo grandes ganhos através da heterose e da complementariedade, porém nada disso seria possível se não fosse a fêmea Nelore.

Quais as principais tecnologias usadas para manejo reprodutivo do rebanho desta raça?

Todas as biotecnologias da reprodução disponíveis no mercado já foram e são usadas nos diversos rebanhos de Nelore no Brasil. Desde as estações de montas, IAs, IATFs e FIVs.

 

Fonte: BeefPoint*, editado pela equipe LAPBOV

*Artigo elaborado por Gustavo Freitas, membro da Equipe Conteúdo BeefPoint, com base em entrevistas feitas com profissionais que trabalham com a raça Nelore.


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