O que você achou do nosso site?



12/05/2014
Novo nicho para crescer


Bem-sucedido em vários campos de atividade e com sucesso inegável na produção agrícola, o cooperativismo sempre relutou em apostar no setor de carne bovina. Muitos motivos explicavam essa estratégia, e o principal deles era que seu público era formado em mais de 70% por pequenos e médios produtores, enquanto a produção de gado bovino no Brasil exigia unidades fundiárias maiores. Também se creditava ao setor uma informalidade incompatível com a organização das cooperativas, o que impossibilitava a concorrência com os frigoríficos estabelecidos.

Criadas há pouco tempo – a primeira delas acaba de completar sete anos –, duas cooperativas paranaenses têm conseguido quebrar esses paradigmas com sucesso, apresentando taxas de crescimento que alcançam 40% ao ano e inventando seus próprios diferenciais e nichos de atuação: a CooperAliança, de Guarapuava, e a Cooperativa Maria Macia, de Campo Mourão. E, melhor que isso, pagando aos seus associados uma remuneração pela arroba da carne que chega a ser quase 20% maior que a que eles obteriam no mercado tradicional.

“A pecuária brasileira se profissionalizou e se internacionalizou nos últimos anos, com elevados investimentos do governo e criação de grandes empresas. Nessa internacionalização há espaço para o cooperativismo. E a barreira fundiária foi rompida com a criação intensiva”, explica José Roberto Ricken, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Estado onde o cooperativismo já representa mais de 55% do PIB agrícola.

Tanto a Aliança como a Maria Macia têm algo em comum: a maioria de seus associados não são pecuaristas na origem, e sim agricultores que enxergaram na pecuária uma terceira possibilidade de rendimento econômico, além das duas safras de grãos. Luiz Carlos Braga, presidente da Maria Macia e campeão de produtividade de soja da Coamo, de Campo Mourão, consegue alojar até 18 animais por hectare para engorda em suas pastagens de inverno, obtendo resultados excepcionais, enquanto a média paranaense é de 0,5 boi por hectare e a brasileira é de um animal por hectare. Mas não é fácil ser um associado. Os padrões de qualidade são tão elevados que, muitas vezes, um produtor tem de cumprir uma etapa de preparação, com duração de dois a três anos, para se transformar num fornecedor qualificado.

Sete pioneiros

A ideia de formar cooperativas de produtores de bovinos sempre esteve presente na cabeça dos sete produtores rurais de Guarapuava que foram o ponto de partida para a iniciativa. Das vantagens do cooperativismo já tinham ciência pela participação na Agrária, de Entre Rios, uma das principais cooperativas do Paraná, que investiu na produção de cevada e se industrializou com o malte cervejeiro. Na década de 1990, a Agrária tinha vários projetos de diversificação nos quais se incluíam os bovinos. Vários associados criaram estrutura e investiram em genética e, quando a cooperativa desistiu do setor, tiveram de procurar um caminho próprio.

“A Agrária comprava bovinos dos cooperados e vendia para frigoríficos com graves problemas de inadimplência porque eles simplesmente compravam e não pagavam. Éramos sete produtores, o que foi bom, pois o número era pequeno e o plantel não era grande, e desejávamos continuar na atividade. Sabíamos que desviar dos frigoríficos era fundamental para sobreviver, e isso envolvia achar um caminho direto para o varejo. Mas como fazer isso?”, lembra Edio Sander, presidente da CooperAliança.
Eles se reuniram numa associação e resolveram definir algumas normas sobre como produzir carne bovina de qualidade com regularidade pelas 52 semanas do ano, atendendo aos anseios do consumidor e proporcionando rentabilidade a todos os envolvidos na cadeia produtiva – princípios seguidos até hoje. Optaram por padrões estabelecidos no programa do novilho precoce do governo do Paraná, criado em 1995. Macho de no mínimo 225 quilos e fêmea de 180 quilos, idade máxima de 24 meses e cobertura de gordura entre 3 e 10  milímetros, um padrão ainda em vigor.

“Estabelecemos uma bonificação para quem atingisse isso porque o produtor só se motiva via remuneração. Fomos trabalhando nesse sistema e tivemos a sorte de, em 2000, assumir um frigorífico que faliu. Topamos assumir sua gestão e fomos avançando em genética, manejo sanitário, transporte, tipificação, nutrição. Na época, abatiam-se 20 bois por semana, mas cinco ainda não estavam dentro das especificações. Hoje, o que descartamos equivale a menos de 2% do que recebemos”, relata o presidente da Aliança.

O projeto bovinos alcançou 12 produtores em 2007, quando a cooperativa foi formada. O oitavo que entrou, porém, encontrou muito bem estruturadas as regras que deveria seguir. “Quem entra não assina contrato. As regras estão escritas e são elas que punem quem não as cumpre. Éramos 12 em bovinos e 23 na criação de ovinos quando fundamos a cooperativa. Atualmente, somos 108, metade em cada tipo de criação, e estamos em todo o Paraná”, explica. Para produzir durante todo o ano, foi também implantada uma escala de abate que é entregue aos associados com 12 meses de antecedência.

Distribuição

A Aliança fechou todo o ciclo de produção e comercialização, fazendo o transporte até o frigorífico, o abate dos animais e também a distribuição, atuando, desde o início, em pequenas e médias cidades e pequenos açougues. Só recentemente entrou em Curitiba.

“Fomos evoluindo e chegamos à conclusão, em 2008, que quem faz o preço não é a cooperativa, e sim o produtor. Usamos uma tabela de classificação e bonificação com o preço base da Scot Consultoria. A partir disso, o associado recebe uma bonificação pela qualidade do animal. Tem coisa mais justa que isso?”

E tem mais: o mercado de carne bovina trabalha com rendimento de carcaça de 52% no boi e 50% na vaca. “Nossa média fechou em 2013 em 55,3% de rendimento de carcaça, o que significa mais 3% num boi de 500 quilos, ou uma arroba, e, além disso, tem a classificação: hiperprecoce (14 meses), superprecoce (18 meses), precoce (24 meses), e se o boi é da raça angus recebe mais”, informa Edio Sander. Em 2013, a CooperAliança cresceu 40%, com um abate total de 13.485 animais, e espera manter esse ritmo em 2014. O próximo passo é um investimento de R$ 18 milhões na construção de um frigorífico mais moderno, a fim de ampliar o abate, e também de uma sede própria em Entre Rios, próximo a Guarapuava.

Na esteira do sucesso da CooperAliança e da descoberta desse mercado de alta qualidade com marca própria, a Cooperativa Maria Macia foi criada em maio de 2008 em Campo Mourão por um grupo de 21 produtores. Ajudou muito o fato de que é exatamente nessa região que se desenvolve um dos mais bem-sucedidos projetos de expansão do sistema de integração lavoura-pecuária, o da Cooperativa Coamo, com mais de 300.000 hectares implantados e que transforma agricultores também em pecuaristas. Hoje, são 74 produtores associados, dos quais 40 estão ativos e o restante ainda em fase de preparação e qualificação para o fornecimento dos animais, com um abate de 12 mil cabeças em 2013 e a expectativa de um crescimento médio de 30% ao ano.

“Nosso produtor recebe um preço médio no mínimo 10% maior que o do mercado e, além disso, distribuímos participação nos lucros. Para nós, a área rural é uma empresa”, conta o presidente da cooperativa, Luiz Carlos Braga. A Maria Macia já está em 95 pontos de venda no Paraná, incluindo 16 redes de supermercados, e também encontra problemas de atender à alta demanda. “Nosso maior gargalo é o produtor preparar a qualidade que nós queremos”, define o presidente. Por enquanto, ela terceiriza o abate em frigoríficos de Campo Mourão e Guarapuava. Em 2013, cresceu 41% em faturamento e 22% no abate de animais.

A multiplicação dos bezerros João Arthur Barbosa Lima está no grupo que ajudou a fundar a CooperAliança em 2007. Ele produz atualmente 700 cabeças de gado anuais, que entrega à cooperativa, na propriedade de 202 hectares no distrito de Guairacá, que toca com quatro empregados e onde mantém também 120 hectares de lavoura e 30 hectares de pastagens. Pratica a integração lavoura-pecuária há vários anos, utilizando no inverno o plantio de aveia, azevém e trevo, que “permitem o alojamento de um número maior de animais”.

Antes de aderir à cooperativa, sua propriedade produzia 180 bezerros por ano, “o que mal pagava as contas”. Sua atividade principal é a produção de bezerro precoce, mas toca 40 hectares de milho e 80 hectares de soja. “O crescimento da produção de bezerros foi a salvação da lavoura porque gira e produz”, diz ele. Sua meta é chegar, em 2014, a 1.200 animais terminados, atingindo o que acha que é a capacidade máxima de sua propriedade. Para garantir seu fornecimento de bezerros para engorda, inclusive, financia alguns parceiros nas vizinhanças e já conseguiu que 60% de sua produção seja da raça angus.

Em 2015, espera atingir com esse tipo de animal 80% do rebanho, com alojamento médio de 12,8 cabeças por hectare, o que considera uma boa produtividade, embora existam casos na região em que se conseguem 19 cabeças por hectare. “A integração lavoura-pecuária é uma tecnologia que está dez anos à frente”, explica ele.

Fonte : Globo Rural


 Voltar  Enviar para um amigo  Imprimir

 30/05/2019 - Novo Site CIA/UFPR
 13/05/2019 - Acordo pode fortalecer EUA no mercado de carne bovina do Japão
 13/05/2019 - Queda no preço do milho deve elevar confinamento em até 7%
 13/05/2019 - Exportações de boi em pé ajudam a sustentar preços de reposição
 13/05/2019 - Previsão do tempo para esta Terça-feira (14/05/2019)

 
 

Nome
E-mail