Novo bezerro 2.0 é quase um boi gordo
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O pecuarista Rubens Catenacci não deixa dúvidas, nem para os estranhos, que se trata de um homem do campo. Está sempre com calça jeans e chapéu de palha clara na cabeça. Às vezes, pode ser visto até à mesa, no meio de uma refeição, com o inseparável chapéu. Homem franzino, magroe de baixa estatura, ele produzosmaioresemaisgordos bezerros do Brasil. Nas feiras de gado e fazendas do Centro-Oeste, onde amealhou admiradores e é sempre recebido com apertos de mão e muita cordialidade, é chamado de o Rei dos Bezerros. Os bezerros de Catenacci pesam sempre 300 quilos (kg) ou mais. Alguns já chegaram aos impensáveis 390 kg. Impensáveis porque esse peso coloca o bezerro próximo a um boi gordo, pronto para o abate, que tem 450 kg. Seus animais também estão muito além da média nacional – pesam, no mínimo, 100 kg a mais. Isso ocorre não porque a pecuária tenha parado no tempo. Pelo contrário. Desde a virada do século,ouso de novas tecnologias na alimentação e na genética, bem como os avanços na gestão das fazendas, promoveram uma revolução silenciosa na criação do nelore, a raça que representa 80% do rebanho brasileiro. De 2000 para cá, o peso médio do bezerro nelore puro, sem mistura de raças, foi de 168 para 190 quilos (kg). Os dados são do Cepea, o centro de pesquisas econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). A instituição norteia os indicadores do bezerro para todo o País. Esses 22 kg a mais significaramumaumentode13% na produtividade da pecuária de corte brasileira. “Foram os investimentos na qualidade do animal que fizeram o País avançar dessa maneira na última década”, diz Sergio Dezen, professor e pesquisador da Esalq/USP. “Imaginar que alguém foi muito além é impressionante.” De acordo com Luiz Claudio de Souza Paranhos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, Catenacci é um exemplo de profissionalismo. Numa analogia, ele fala que o fazendeiro mostrou, na prática, que é possível aperfeiçoar o modelo de bezerro que está aí: “É comum a gente ver animais maiores nas pistas de competição das feiras, mas eles são como os modelos da Fórmula 1 – são únicos, estão acima da média e servem de base para a modernização dos modelos destinados a rodar na rua, na pecuária de corte”, diz Paranhos. “O Rubinho provou que podemos almejar um número maior de modelos 2.0 saídos de fábrica.” Foi preciso tempo, paciência e tecnologia para chegar ao bezerro2.0.“ Não se faz milagre da noite para o dia”, diz Catenacci. “Comecei em 1991 porque queria ser campeão nas feiras, mas depois percebi que poderi aaplicar os métodos usados em um único animal para o rebanho.” Linha de produção. A fazenda de Catenacci que opera como um verdadeiro centro de produção de bezerros é a 3R, em Figueirão, Mato Grosso Sul, Na pura experimentação da lida diária no campo, Catenacci desenvolveu um método particular de produção sustentado por três pilares. O primeiro deles é a genética. Seus bezerros de Catenacci têm como matriarca a vaca Badalada, uma das filha do lendário touro Fajard, um dos melhores reprodutores da história recente do País. Badalada chegou a ser eleita, em 1998, a terceira melhor vaca do Brasil. “Nelore bom é o que nasce do cruzamento de nelore bom”, é a máxima que Catenacci estabeleceu. O segundo pilar é a forma de criação dos animais. A área de pasto onde os bezerros crescem foi organizada como uma grande pizza: há 12 “pedaços” e umaárea circular no meio, chamada de praça de alimentação, Os“pedaços”e a praça são isolados por cercas. O pasto é cultivado e o capim sempre tenro. Assim, cada vez que o capim de um dos “pedaços” é consumido, os animais são transferidos para o “pedaço” seguinte, onde o capim é jovem. Os bezerros ficam a maior parte do tempo com as mães, para que possam mamar quando quiser. O terceiro pilar é a nutrição. Diariamente, durante cerca de 4horas, os bezerros são separados das mães e levados à praça de alimentação, onde recebem alimento suplementar que inclui 18% de proteína bruta. “Se você tratar o nelore com uma boa ração, ele responde”, diz o fazendeiro. Segundo Rogério Rosalin, gerente da fazenda 3R, muita gente visita o local para entender o sistema e copiá-lo. “Mas não é simples assim”, diz. “Para que uma propriedade rural funcione como uma linha de produçãoépreciso gestão, roteiros de trabalhos e deserviços padronizados – mas a maioria ainda pena justamente na gestão.” FONTE: Beef World
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