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01/04/2016
Vermifugação malfeita dá prejuízo na balança


A verminose, quando comparada a outros parasitas, tem um agravante. Afinal, que tipo de inimigo é esse que está debaixo do nariz do produtor, mas ele não vê? Diferente do carrapato bovino e da mosca-do-chifre, por exemplo, os vermes permanecem escondidos: 95% na pastagem, na forma de larva ou ovo e 5% nos bovinos, mais precisamente, dentro do seu aparelho digestivo. “Esse então é o nosso grande desafio hoje, e o primeiro: convencer os produtores da importância da verminose”, afirma o médico-veterinário e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Fernando Borges. De acordo com ele, as perdas com os vermes regulam na casa de 18 a 45 kg por cabeça de gado, peso esse que os animais deixam de ganhar... tudo por conta da ação dos parasitas. 

Consciente do tamanho do problema, o pecuarista deve seguir algumas recomendações:

Grupos de risco para verminose em bovinos. “Em gado de corte, o bezerro fica mais suscetível após a desmama e é dos oito aos 20 meses que se tem a fase crítica”, alerta Fernando. Passado esse período, o animal já tem uma boa imunidade, o que não quer dizer que estará livre de parasitas, mas que terá um número muito menor. “Dos 20 aos 24 meses a necessidade de tratamento cai sempre e quando o animal for bem manejado e tiver boa nutrição”, completa.

Fora desse grupo, existem algumas exceções. Bezerros podem apresentar problemas se estiverem com estrongiloidose. Essa verminose é restrita a animais com até seis meses de idade. Entre os adultos, tratamentos são indicados diante de infestação por vermes tricostrôngilos - segundo o professor, com casos já reportados de fortes diarreias em vacas - e esofagócitos, que têm apresentado tendência de aumento por conta de resistência. 

Do nascimento à desmama, tratar ou não tratar os animais com vermífugo é uma questão controversa. “Tem um estudo da Embrapa, inclusive, que mostra que em algumas fazendas os animais chegaram a ganhar até 9 kg a mais quando vermifugados nessa fase. Mas esse mesmo estudo concluiu que em outras propriedades pode não se ter retorno”, diz. No campo, a experiência se confirma: “Temos relatos dos dois cenários, e a eficiência pode ser reflexo de muitos fatores. Nutrição e ‘efeito mãe’ são alguns deles”. Sobre adotar a técnica, Fernando diz: “para cruzamento industrial é interessante sim; agora, se a propriedade tiver só gado Nelore tem lugar em que vai funcionar bem e lugar em que não”.

Princípios ativos. Que os vermes desenvolveram resistência às ivermectinas e que é necessário fazer a alternância de princípios ativos para evitar que isso aconteça, o produtor está cansado de saber. Mas quais são suas alternativas? “Estudos realizados na década de 1990 nos Estados de SP, SC, MG e RS são um termômetro de que moléculas mais antigas ainda funcionam bem. São elas o levamisol e o albendazole”, afirma o professor. Além dessas, está em uso hoje, com boa eficiência, a moxidectina. “Esse é um perfil dos estudos identificado em quase todos os trabalhos realizados no Brasil”, diz Fernando, que afirma faltarem evidências científicas mais consistentes sobre formulações à base de doramectina, abamectina e eprinomectina.

Falando de princípios ativos, outro erro comum do produtor é a opção por marcas e não por fomulações. “Só no caso da ivermectina são mais de 70 produtos disponíveis no mercado. Então veja só o risco de não ler o rótulo. Você pode achar que está trocando de medicamento a cada aplicação e não está”.

Mesmo tomando todas as precauções, o cenário da resistência aos anti-helmínticos não pode ser ignorado. “Pouca gente consegue lidar com o problema e ele é subestimado. Usar um vermífugo é diferente de usar um carrapaticida ou mosquicida”, argumenta Fernando. Em casos assim, o pecuarista vai lá, aplica o produto e se depois de 14 dias o animal ainda estiver cheio de moscas ou carrapatos, uma explicação é que os parasitas desenvolveram resistência ao príncipio ativo. Agora, com os vermes, o que você faz?.   

Monitoramento. A resposta para a pergunta logo acima é monitoramento. Fernando explica que para isso se fazem testes de redução de OPG; o exame de laboratório quantifica o número de ovos por grama de fezes em um grupo amostral de animais. Feito isso, são administrados os anti-helmínticos e depois de alguns dias se faz uma nova coleta de fezes para medir quais deles tiveram eficiência. “Para testar cada vermífugo, geralmente, se faz o acompanhamento em grupos de 10 animais. Vamos supor que você queira testar a eficiência da ivermectina e do levamisol. Então, você trata dez animais com um vermífugo e dez com outro, e faz um exame de fezes antes disso e outro depois”, exemplifica. O teste é realizado nas principais universidades brasileiras, por técnicos que trabalham em campo e laboratórios privados. Na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul o custo é de R$ 10 por amostra. No caso do exemplo citado, o custo seria de R$ 200.

Aplicação. Fundamental para obter resultados satisfatórios no combate aos vermes é ainda a atenção ao calendário. “Quando o animal está bem-nutrido ele consegue controlar sozinho a verminose. Por isso, na seca, ele fica mais suscetível aos danos causados pelos parasitas”, diz Fernando.

Com o intuito de reduzir os trabalhos de manejo, hoje, muitos produtores administram vermífugos apenas em conjunto com a aplicação da vacina da febre aftosa. Isso significa que o procedimento é feito, em geral, nos meses de maio e novembro.

A recomendação oficial da Embrapa Gado de Corte, no entanto, é de que isso aconteça em maio, julho e setembro. Maio porque é o começo da seca, julho porque é o auge e setembro por conta do início do período das chuvas. Fernando explica a fundamentação do método: “Com a aplicação em maio, o animal já entra no período de seca tratado. Depois, vem julho, que é quando o capim vai perdendo qualidade e, considerando a relação estreita entre nutrição e parasitismo, essa é a fase mais importante. Por último, em setembro, você trata para que ele não contamine muito o pasto com ovos e nos meses seguintes não suba de mais a quantidade de larvas no pasto”, diz.

Recentemente, a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul publicou um estudo alternativo às duas soluções e que mostra que a vermifugação feita somente em maio e novembro não traz retorno econômico para o pecuarista. “Isso acontece porque o período mais seco do ano é também o mais crítico para os animais e seu auge é entre julho e agosto”, diz. Na UFMS, o esquema de tratamento foi desenvolvido para acontecer nos meses de maio e novembro -- o que já feito pelos fazendeiros -- com uma aplicação adicional em agosto. Comparando o método da aplicação casada com a aftosa com o recém-proposto pela Universidade, houve diferença de ganho de peso de 20,3 kg, em média, no período de um ano no caso dos animais que passaram pela vermifugação em maio, agosto e novembro. O programa de verminoses já foi patenteado em parceria com a Zoetis. “A vantagem dele é principalmente a questão do manejo, porque a técnica da Embrapa, do ponto de vista técnico, é altamente recomendável”, completa Fernando. 

Hoje os principais vermes responsáveis por prejuízos para a atividade do corte no Brasil são o Haemonchus e o Cooperia. O Haemonchus vive no abomaso, estômago do boi responsável por digerir proteínas. Sua ação patogênica se dá no sentido de reduzir essa digestão e também na perda de sangue, causando anemia. “O Cooperia, por sua vez, é muito comum e no passado acreditava-se que era pouco patogênico. Mas hoje não é mais assim. Estudos recentes mostram que animais parasitados por Cooperia ingerem menos matéria seca. O resultado disso é que ganham menos peso”, diz Fernando. A razão são alterações hormonais que inibem o apetite dos bovinos.

Fonte: Portal DBO


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