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29/07/2016
Quando e como se deve suplementar ?



Há consenso entre os técnicos, no Brasil, de que o caminho da produtividade na recria/engorda passa necessariamente pela suplementação. Boa parte dos produtores já se convenceu disso, mas continua “rodopiando” em torno de perguntas básicas: quando, quanto, como e com qual produto suplementar? Para o professor Flávio Portela, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), antes de buscar respostas para essas questões, o pecuarista deve analisar o próprio sistema de produção e definir seus objetivos, pois a suplementação é uma ferramenta extremamente versátil, que pode ser usada tanto para melhorar o desempenho individual dos bovinos quanto para elevar a taxa de lotação da fazenda.

A escolha da estratégia mais adequada a cada projeto depende de uma série de variáveis técnicas e econômicas, daí haver tanta incerteza envolvendo o tema. O primeiro passo, segundo ele, é fazer análise laboratorial das gramíneas forrageiras, para verificar sua qualidade.

Pode-se ter uma planta com 3% e outra com 8% de proteína bruta (PB) durante a seca, na mesma fazenda, dependendo da cultivar, do tipo de manejo, do índice de chuvas da região, etc. Classificar as pastagens de forma genérica, apenas com base na época do ano, é um mau começo. Quando elas apresentam baixa qualidade (menos de 7% de PB), o tipo de produto usado influencia bastante nos resultados, conforme mostrou um estudo conduzido pelo agrônomo João Ricardo Rebouças Dórea, doutor em Ciência Animal pela Esalq e pela Universidade de Wisconsin, EUA.

Efeito-produto

Dórea fez uma comparação estatística de 48 experimentos nacionais, com 2.591 bovinos, que receberam três tipos de suplementos: proteico, energético, e proteico- energético. Os bovinos alimentados com o primeiro produto, na proporção média de 0,26% do peso vivo, ganharam, 417 gramas/cabeça/dia, 52% mais do que o grupo não tratado, que engordou 273 gramas/cabeça/dia. Tal resultado é explicado pela neutralização do déficit proteico nas pastagens, pois esse tipo de suplemento contém mais de 30% de PB e ajuda a aumentar a síntese microbiana e a degradação da fibra, favorecendo o consumo de forragem. Apesar de não ser recomendado para uso em pastos de baixa qualidade (contém apenas 15% de PB), o energético garantiu bom ganho de peso. Segundo Dórea, se houve prejuízo à fermentação ruminal, isso não depreciou o consumo. Fornecido na proporção de 0,65% do PV, o suplemento garantiu ganho de 552 gramas/cabeça/ dia, pois continha 77% da PB e três vezes mais energia do que o proteico.

A melhor resposta nesse tipo de pastagem, contudo, foi obtida com proteico-energético (15% a 30% de PB) fornecido na quantidade de 0,63% do peso vivo. Após compilação dos dados dos trabalhos, constatou-se que os bovinos engordaram, em média, 630 gramas/cabeça/ dia, 357 gramas mais do que os do lote não tratado e 213 gramas mais do que os do grupo suplementado com proteico. A comparação confirma que qualquer suplementação é bem vinda quando falta PB no capim, porém é preciso avaliar esses produtos economicamente.

Outra conclusão interessante de Dórea: em pastagens de melhor qualidade (acima de 9% de PB) não se verificou diferença significativa em ganho de peso entre os suplementos avaliados. Nos três casos, os animais apresentaram ganho médio adicional de 151 gramas/cabeça/ dia em relação aos não tratados. Outra compilação feita por Dórea, com 1.153 animais em 42 experimentos, mostrou que os bovinos consumiram mais forragem (2,13% do peso vivo) quando mantidos em pastagens de melhor qualidade, pois havia condições adequadas ao crescimento microbiano ruminal. Nas áreas onde faltou PB, eles ingeriram apenas 1,66% do peso vivo em capim. Observou-se impacto positivo da suplementação proteica sobre o consumo, mas somente quando os bovinos receberam até 0,2% do peso vivo.

Acima desse patamar, principalmente em pastagens de melhor qualidade, verificou-se o chamado “efeito substitutivo”, ou seja, o animal troca o capim pelo concentrado. Segundo o professor Portela, da Esalq, isso não é ruim, pois sobra mais capim no pasto para alimentar outros animais, ou seja, garantindo aumentar a lotação e produzir mais carne por hectare. A última conclusão do trabalho é de que suplementar na recria não garante maior ganho de peso e eficiência alimentar durante o confinamento.

Calculadora nas mãos

O que fazer com todas essas informações? “Contas”, diz o pesquisador Gustavo Rezende Siqueira, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta), unidade de Colina, SP. Para a pergunta quando suplementar, ele é categórico na resposta: o ano inteiro, em todas as fases de vida dos bovinos, para se reduzir a idade de abate e melhorar a rentabilidade da fazenda. Caso o produtor não tenha condições de fazer isso, deve suplementá-los pelo menos na seca, quando as pastagens costumam perder valor nutricional e o consumo cai, reduzindo o ganho de peso, o que eleva o custo por arroba produzida. “Suplementar nesse período não é uma opção, mas uma necessidade”, diz ele.

Para reforçar a afirmação, Siqueira faz um exercício matemático. “Suponha que um bezerro suplementado apenas com sal mineral ganhe 50 gramas/ dia durante os 150 dias de estiagem. Ao fim desse período, ele terá acumulado 7,5 quilos de peso vivo ou um quarto de arroba”, explica o pesquisador. Como  custo de manutenção desse bezerro na fazenda é de R$ 1/ dia (R$ 0,17 de suplementação mineral, mais R$ 0,83 de despesas operacionais), tem-se um desembolso de R$ 150/cabeça/período. Dividindo-se esse valor pelos 7,5 quilos ganhos em 150 dias, chega-se ao custo de R$ 20/ quilo. Multiplicando-se esse valor por 30 quilos (uma arroba de peso vivo), nos deparamos com espantosos R$ 600 por arroba produzida. “Ao elevar o ganho de peso dos animais, a suplementação ajuda a diluir esse custo”, argumenta Siqueira.

Qual produto usar?

Conforme mostrou o trabalho de Dórea, quando as pastagens estão com baixo valor nutritivo e pouca oferta, o animal precisa de proteína, cuja função é alimentar as bactérias do rúmen para que elas degradem as fibras do capim. Portanto, a melhor opção é fornecer um suplemento proteico ou um proteico energético aos animais, como mostrou a análise comparativa.

Siqueira lembra, porém, que esses dois produtos têm custos bem diferentes. Qual deles escolher? O pesquisador da Apta responde com outra pergunta: quanto o animal precisa ganhar de peso para que a suplementação se pague? Normalmente, o consumo de proteinado é de 1 grama por quilo de peso vivo, ou seja, um garrote de 300 kg consome 300 gramas/dia, ao custo diário de R$ 0,50/cabeça, em média. Descontando-se os R$ 0,17 antes gastos com sal mineral (agora não mais necessário), chega-se a um desembolso de R$ 0,33/cabeça/dia.

Considerando-se a arroba a R$ 150 e, consequentemente, o quilo de peso vivo a R$ 5, o animal deve engordar pelo menos 60 gramas/dia para pagar essa conta. “Consumindo proteinado, os animais ganham 200-250 gramas/cabeça/dia a mais do que ingerindo sal mineral. Portanto, esse suplemento é economicamente viável”, diz Siqueira. O mesmo raciocínio deve ser feito em relação ao proteico-energético, cujo consumo é maior (3 gramas de produto por quilo de peso vivo ou 900 gramas/ cabeça/dia), o que eleva o custo da suplementação para R$ 1,23/cabeça/dia. Dividindo-se esse custo por R$ 5 (valor de venda do quilo de peso vivo), conclui- -se que o bovino precisa ganhar no mínimo 246 gramas/ cabeça/dia. Como o proteico-energético garante ganho de 250-300 gramas/cabeça/dia a mais do que o sal mineral, a conta fecha apertada. “O produtor deve ser muito cauteloso ao usar esse tipo de produto em pastagens de baixa qualidade. Precisa definir bem suas metas para não errar e perder dinheiro”, alerta Siqueira.


Fonte: Revista DBO 429


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